"Quando vejo o princípio de liberdade em ação, vejo agir um princípio vigoroso, e isto, de início, é tudo que sei. É o mesmo caso de um líquido; os gases que ele contém se liberam bruscamente: para se fazer um julgamento, é necessário que o primeiro movimento se acalme, que o liquido se torne mais claro, e que nossa observação possa ir um pouco além da superfície".
Edmund Burke.

sábado, 1 de outubro de 2016

Sim, as mulheres possuem propensões naturais – assim como os homens

No debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo realizado no último domingo, 25/09, e transmitido pela rede Record de televisão, uma frase proferida pelo candidato tucano João Doria Junior repercutiu negativamente entre alguns eleitores e grupos sociais. Na fala em questão, o candidato mencionou que “as mulheres possuem uma propensão natural a artes, cultura e lazer.”

 A sentença reascendeu as chamas de um ardoroso debate contemporâneo, o qual condena sentenças do mesmo teor como meras especulações baseadas em estereótipos sociais de fundo preconceituoso e machista.

 Nos termos dos críticos de Dória, sua frase teve a infelicidade de reproduzir a opressão e a desigualdade de gênero resultantes do processo histórico de nossa sociedade.  É evidente, que muitas de nossas heranças culturais e sociais, que moldam nosso comportamento, foram historicamente construídas ao longo de inúmeras gerações. Falar, portanto, numa possível propensão e essência naturais consistira num mero ato de naturalização de um processo artificial e, segundo dizem, arbitrário.

 A frase do candidato, portanto, não refletiria senão um puro preconceito, um machismo social típico da própria sociedade em que vivemos. O problema, no entanto, surge quando nos debruçamos sobre a realidade tangível: segundo dados do IBGE[1] em uma pesquisa realizada em 2012, a participação das mulheres no percentual da população economicamente ativa chegou a 46,1%, participação duas vezes maior do que a registrada em 1976, de 28,8%. Neste expressivo aumento, agora segundo pesquisa do instituto Catho Online[2], realizada também em 2012, as mulheres passaram a representar mais da metade da força de trabalho nas áreas de educação, com 62%; recursos humanos, com incríveis 73%; medicina e saúde, com 52%; e administrativa, com 60%, ao passo que os homens apresentavam um índice maior de participação nas áreas jurídica, com 53%; engenharia, com 80% e Tecnologia, com surpreendentes 84%.

 Algo semelhante se observa quanto o quesito é educação superior. Segundo censo divulgado pelo MEC[3] em 2012, dentre os 10 cursos de ensino superior mais procurados por homens e mulheres no Brasil, apenas Administração, Direito e Ciências Contábeis eram vistos em ambas as listas. No mais, os cursos mais procurados por elas tendem a ser Pedagogia, Psicologia, Fisioterapia, Enfermagem, Farmácia, Serviço Social e Gestão de pessoas/Recursos Humanos. Por eles, vemos Engenharia civil, elétrica, mecânica, de produção, educação física e gestão logística.

 As mesmas diferenças de “perfil” também parecem se repetir a nível internacional no ocidente. Conforme os dados apresentados no documentário norueguês “Lavagem Cerebral[4]”, de 2011, nos países tidos como livres e nos quais a igualdade de gêneros tende a ser maior, as mulheres compõem imensa maioria do quadro de profissionais das áreas de educação, enfermagem e psicologia. Os homens, por sua vez, ainda integram boa parte da força empregada nas áreas de engenharia, ciências exatas, tecnologia e construção civil.

 “Mas qual seria a razão destas diferenças?” Ainda segundo os especialistas consultados no documentário, a causa deste fenômeno parece residir no processo de evolução de nossa espécie, percurso no qual as características que foram capazes de propiciar uma melhor adaptação e conseguinte sobrevivência de homens e mulheres foram adicionadas no escopo natural genético e transmitidas às gerações subsequentes. Isto ajudaria a explicar porque, mesmo em ambientes cada vez mais marcadas pela ausência de restrições a ambos os sexos, os tão difamados estereótipos se repetem e se intensificam.  

 Não quero com isso afirmar que há, conforme Goethe expressou há mais de duzentos anos, um “eterno feminino”, uma condição atemporal e imutável que define, de antemão, as características comuns às mulheres. Mas, o aspecto mais notável trazido com esta reflexão é, sem dúvida, a aceitação de que João Doria Junior ao menos não se equivocou ao afirmar que as mulheres possuem certas propensões naturais. Teria sido mais assertivo e nos conformes dos dados empíricos se tivesse dito que tanto homens, quanto mulheres, apresentam propensões que poderíamos chamar de naturais.  Ao analisarmos os dados divulgados, podemos concluir que no mais das vezes, homens e mulheres apresentam e irão apresentar desejos, interesses e características distintos e que parecem reforçar as afirmações estereotipadas sobre diferenças de gênero que tanto ouvimos. É óbvio que isto não nos confere do direito de dizer que há uma essência natural em cada um em razão de um determinismo biológico, mas com certeza nos esclarece que, coeteris paribus, quanto maior a igualdade de condições também no que diz respeito ao critério “diferença por sexo/gênero”, mais as diferenças entre um e outro se manifestam.




[1]http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/Mulher_Mercado_Trabalho_Perg_Resp.pdf
[2] http://blog.catho.com.br/2012/03/07/pesquisa-da-catho-online-destaca-o-aumento-da-participacao-das-mulheres-no-mercado-de-trabalho/
[3] http://exame.abril.com.br/brasil/album-de-fotos/as-10-graduacoes-preferidas-pelos-homens-e-pelas-mulheres-no-brasil#10
[4] https://www.youtube.com/watch?v=tiJVJ5QRRUE

Um comentário:

  1. Larguem a mão de hipocrisia e de medinho de falar. Somos diferentes sim, senão não seriam homens e mulheres. Essa ideologia imbecil de igualar tudo é coisa de gente sem noção, retardados que querem que homens e mulheres sejam iguais mas insistem que negros e brancos são diferentes. Gente completamente retardada.

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