"Quando vejo o princípio de liberdade em ação, vejo agir um princípio vigoroso, e isto, de início, é tudo que sei. É o mesmo caso de um líquido; os gases que ele contém se liberam bruscamente: para se fazer um julgamento, é necessário que o primeiro movimento se acalme, que o liquido se torne mais claro, e que nossa observação possa ir um pouco além da superfície".
Edmund Burke.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

A Experiência comprova: sem sentido mesmo é ser Pobre de Esquerda!


Não faltam no Brasil críticas e mais críticas a respeito do “novo” fenômeno observado nas ultimas eleições aqui e mundo afora. Como foi possível que pobres, desvalidos e cidadãos em péssimas condições financeiras e sociais demonstrassem apoio a representantes “direitistas” e exploradores dos mais pobres?

 Tal fenômeno, caracterizado pela Socialista Morena como uma Síndrome de Estocolmo em larga escala[1], aprofundou sentimentos e paixões adversas. Em seu blog destinado a disseminar o “esquerdismo way of life”, podemos encontrar até mesmo uma caracterização dos tipos diferentes de “coxinhas” que compõem a direita brasileira[2]. Dentre os tipos observados, está o criticado pobre de direita, que seria ao mesmo tempo vítima do capitalismo e fiel defensor de seus arautos. No seu entender, o pobre de direita, ao condescender e apoiar o desenvolvimento do capitalismo e de um Estado mínimo, estaria incorrendo, na verdade, com sua própria ruína.

 Acresce que a empiria tem nos fornecido dados suficientes para colocar este discurso não somente à prova. Com efeito, nos tem fornecido razões suficientes para crer na sua afirmação contrária. Isto porque, em primeiro lugar, quando nos debruçamos sobre a questão histórica da extrema pobreza ao redor do mundo, podemos observar que o índice de pessoas, ao redor do globo, vivendo abaixo da linha da pobreza (que recebe menos do que US$ 1,90 por dia) tem apresentado forte redução ao longo das últimas décadas, chegando a especialmente após o colapso da União Soviética e do bloco socialista do leste europeu. Se em 1990 este índice já era superior a 30% da população mundial, esta parcela extremamente desfavorecida não compreendeu em 2015 mais do que 10% do total de habitantes[3]. A redução tem sido tal que levou os autores do último relatório da Banco Mundial a respeito do assunto a afirmarem que, mantido este ritmo, a pobreza extrema terá desaparecido do globo até ao ano de 2.030[4].

 Ainda segundo o Banco Mundial e outro relatório publicado pela entidade em 2008[5], que abordou as causas e os fatores determinantes do rápido crescimento econômico de treze nações, iniciado ainda em 1950, semelhanças nos modelos sócio-econômicos adotados por estes países o levaram a estabelecer uma espécie de “receita” com os ingredientes fundamentais para estabelecer um crescimento econômico, real, vigoroso, sustentável e inclusivo. Nesta, os 5 princípios[6] consistem na acumulação, entendida como investimento na formação bruta de capital; na inovação, que consiste no desenvolvimento de novos produtos e processos; na alocação de capital, feita conforme as demandas reais de produtores e consumidores; na estabilização macroeconômica e, por fim, num conjunto de políticas públicas destinadas a promover uma igualdade de oportunidades mais acentuada.

 Com esta abordagem, que fundamenta o crescimento econômico de um estado-nação no processo de acumulação de capital e incorporação de progresso técnico ao trabalho e ao capital que, por conseguinte, conduz, ao aumento da produtividade, dos salários e do padrão médio de vida da população[7], pôde concluir o Banco Mundial que esta redução nos índices de extrema pobreza deveu-se, principalmente, ao crescimento econômico de muitas nações subdesenvolvidas, aos investimentos em educação, saúde e seguridade social.

 O cenário torna-se ainda mais elucidativo quando cruzamos estes dados com as pesquisas fornecidas pelas Nações Unidas a respeito do desenvolvimento humano. Nos últimos relatórios sobre o item, fica claro que a distância entre os países mais ricos e aqueles notadamente mais pobres têm diminuído[8], ainda que de forma lenta. De modo geral, surpreendentemente algumas das nações consideradas mais pobres do mundo estão entre aquelas que apresentaram uma evolução mais acentuada em seu nível de desenvolvimento humano, sendo Zimbábue e Nigéria os principais exemplos neste quesito[9]. Ao cruzarmos estas evidências com as pesquisas fornecidas pelo Banco Mundial e pelo instituo Austin Rating, é revelador constatar que, dentre as 13 nações que mais crescem no mundo, pelo menos metade está no continente africano e algumas inclusive constam também na lista de países que apresentaram evolução nos índices de desenvolvimento humano[10]: Costa do marfim, Ruanda, Tanzânia, República Democrática do Congo, Etiópia, Nigéria e Moçambique.
 É interessante observar um movimento no mesmo sentido, agora segundo a Heritage Foundation, em que países como Costa do marfim, Tanzânia e Congo têm apresentado melhoras quanto ao desenvolvimento de práticas institucionais importantes para o crescimento econômico: direitos de propriedade, combate à corrupção, estado de direito, acumulação de riqueza e livre comércio[11]. Dentre todas as nações ranqueadas, Tanzânia e Costa do Marfim apresentaram um crescimento de 1.0 em relação a pontuação em indexes anteriores – praticamente um dos maiores índices de evolução entre todos os listados.


 Dito de outro modo, a mensagem é evidente: o capitalismo tem logrado alçar da pobreza extrema e lançar a patamares maiores de riqueza contingentes cada vez maiores de pessoas, povos e nações. Como o diz Rodrigo da Silva:

o número de pessoas vivendo na mais absoluta pobreza vem caindo consideravelmente no mundo desde a Revolução Industrial. De fato, se os ricos ficaram mais ricos desde o início do capitalismo, os pobres também vem melhorando suas posições como nunca antes havia sido possível.

Os etíopes vivem hoje, em média, 24 anos a mais do que em 1960. Os chilenos já são mais ricos do que qualquer nação do mundo desenvolvido na década de cinquenta. A mortalidade infantil é menor hoje no Nepal do que na Espanha em 1960. Há 35 anos, 84% dos chineses vivia abaixo da linha da pobreza – esse número caiu para 6%, como reflexo da abertura econômica iniciada com a subida de Deng Xiaoping ao poder. Desde 1990, aliás, o percentual da população mundial vivendo na extrema pobreza caiu mais da metade – para menos de 18%.

Atualmente, os sul coreanos vivem, em média, 26 anos a mais e ganham 15 vezes mais por ano do que em 1955 (ganham 15 vezes mais também que os norte coreanos, mas essa é outra história). Os mexicanos vivem agora, em média, mais do que os britânicos viviam em 1955. Em Botswana a população ganha, em média, mais do que os finlandeses ganhavam em 1955 (em 1966, cada cidadão botsuano ganhava em média 70 dólares por ano; o país tinha míseros doze quilômetros de estradas pavimentadas e vinte e dois habitantes com diploma universitário). Em duas décadas, a proporção de vietnamitas vivendo com menos de dois dólares por dia caiu de 90% para 30%[12].

 Voltando os olhos, agora, para a situação nacional, faz-se ainda mais forçoso concluir como a ruína de um povo está intimamente relacionada com a intervenção da ação pública em esferas onde sua atuação não é necessária. Se, por um lado, pudemos observar, graças á ação de políticas públicas como Bolsa Família, a redução, entre 2004 e 2013, dos índices de pobreza no país de 20% para 9%[13], por outro constatamos que as regiões onde esta pobreza mais se concentra continuam sendo os estados que compõem as macrorregiões do Norte e Nordeste, e mais especificamente suas zonas rurais[14].  E sua causa, acreditem, já é bem antiga e conhecida: falta de infra-estrutura e a frágil agricultura familiar.

 Avançando mais profundamente no contexto brasileiro, não podemos deixar de mencionar mais uma vez, ainda mais com o tema proposto, as causas da pior crise econômica da história nacional. Como salienta Raul Velloso[15], o primeiro ponto significativo neste percurso de péssima economia doméstica que nos conduziu ao atual estado de coisas consiste justamente na expansão dos gastos públicos de forma a insuflar ou gerar uma quantidade exponencial de demanda agregada, em detrimento do estímulo a poupança familiar e, por conseguinte, aos investimentos. A ideia de se buscar um superávit primário, e a necessidade de conter as despesas correntes que a ela se associa, foi abandonada completamente. Gastos sem lastros rentáveis – fundos existem ou possivelmente arrecadados – passaram a ser expedidos sob medida de contratação de empréstimos e endividamento, conduzindo a uma situação insustentável de déficit orçamentário e salto gigantesco da divida pública em relação ao PIB.

 Em adição, a economia do setor privado não apresentou crescimento no mesmo ritmo da expansão dos gastos. Isto em parte, sobretudo, à burocracia lamentável e aos tributos escorchantes aplicados sobre a produção e o lucro. A situação tornou-se pior com os reflexos da crise de 2008, quando a inadimplência saltou no país, especialmente a partir de meados dos anos 2010; fato este, por sua vez, decorrente da escassez de crédito aos pequenos e médios empresários – boa parte do crédito fornecido pelo sistema bancário teve seu consumo concentrado pelo próprio Tesouro, numa clara medida de financiar seus déficits, uma vez que os recursos para tais gastos estavam se esgotando.


 A clara consequência destes fatores tornou-se óbvia: a dificuldade de concentrar capital através da poupança, em detrimento da alta carga tributária e da falta de competividade do setor industrial principalmente, fez diminuir sensivelmente a taxa de poupança e, quase no mesmo momento, a taxa de investimentos do setor privado. Aliado a isto, os recursos captados pelo Estado não se reverteram em investimentos de infra-estrutura. Como nos indica Rabello de Castro[16] , parte considerável dos recursos oriundos da iniciativa privada – que, de outro modo, seriam utilizados de forma mais eficiente se alocados conforme o mecanismo da troca voluntária de agentes econômicos – perdeu-se, evaporou-se dentro da própria máquina pública. Do montante inicial capturado via impostos, praticamente metade era desviada para outros fins, como programas sociais e custos com saúde e previdência. Outros 40% eram destinados a manter os custos da burocracia estafante, incluído aí salários do funcionalismo público, benefícios, etc... Apenas o restante, deste modo, era “devolvido” ao setor produtivo sob a forma de investimentos. Note como o capital que anteriormente poderia ter sido reinvestido em geração de empregos e descobertas de processos de produção inovadoras e menos custos pulverizou-se quase por completo neste ínterim. Por fim, a quantidade daquela demanda agregada, financiada pelo próprio governo, não pôde ser suprida pela produção manufatureira e industrial nacional. O custo das importações de bens intermediários e outros insumos, primordiais para tais ramos da economia, a perda de competividade causada por políticas protecionistas, a dificuldade de entrada de novos concorrentes e, principalmente, a ausência de mão-de-obra qualificada solaparam qualquer crescimento ou inovação neste setor.

 Em resumo, novamente segundo Velloso[17], esta estrutura econômica e social brasileira, impulsionada por um forte populismo e pelas ilusões de que a inclusão social pode ser obtida unicamente mediante políticas públicas, fez do Estado brasileiro um ente redistributivista sui generis, no qual apenas um terço do estado de bem estar social redistribui a riqueza oriunda dos mais afortunados para os relativamente mais pobres. De fato, justamente este modelo acabou com qualquer possibilidade de se atingir uma gestão pública que pudesse ser chamada de eficiente.  

 A consequência mais óbvia de todo este processo, ao fim e ao cabo, é demonstrada pela recente pesquisa do FMI, segundo a qual 7 países da América Latina, entre eles Bolivia, Chile, Perú e Colômbia apresentam crescimento econômico anual muito superior ao notado no Brasil, que, aliás, figura, juntamente com Argentina e Venezuela, como talvez os únicos países da região mergulhados em forte recessão[18]. Em termos globais, em 2014, por exemplo, ficamos em 24º lugar em ranking mundial de crescimento econômico, atrás de nações como Indonésia, Filipinas, Índia, Cingapura, Sudão do Sul, Iêmen e Malásia[19].  E, pior ainda, em 2015, segundo o IBGE, o Brasil voltou a registrar crescimento no índice de extrema pobreza, estagnada desde 2009, quando chegara ao patamar de 8%. No ano passado, este índice saltou incríveis 1,5%[20]. Há estimativas, inclusive, de que este índice tenda a aumentar nas atuas condições financeiras do país.

 Portanto, longe do que nossa Socialista Morena nos leva a acreditar, a síndrome de Estocolmo que tanto advoga parece realmente existir neste insidioso campo da economia política – só que ao contrário. É justamente o péssimo ambiente de negócios, o tamanho exagerado do Estado brasileiro, inflacionado com sua progressiva intervenção na economia nacional através de um projeto nacional – bem mal sucedido - de subsídios e comando central das atividades econômicas, além da ausência de poupança e investimentos privados que nos legaram a atual desilusão de nossa classe mais pobre com o discurso politicamente correto – e efetivamente desastroso. Um último apontamento, se o leitor assim me permitir: viva o capitalismo!





[1] https://pt-br.facebook.com/SocialistaMorena/posts/623342084392965
[2] http://www.socialistamorena.com.br/tipinhos-da-direita-brazuca/
[3] http://www.worldbank.org/en/news/press-release/2015/10/04/world-bank-forecasts-global-poverty-to-fall-below-10-for-first-time-major-hurdles-remain-in-goal-to-end-poverty-by-2030
[4] Ibidem.
[5] https://openknowledge.worldbank.org/bitstream/handle/10986/6507/449860PUB0Box3101OFFICIAL0USE0ONLY1.pdf
[6] http://www.ppge.ufrgs.br/anpecsul2015/artigo/os_determinantes.pdf
[7] http://www.bresserpereira.org.br/Papers/2007/07.22.CrescimentoDesenvolvimento.Junho19.2008.pdf
[8] http://noticias.r7.com/internacional/idh-mostra-que-diferenca-entre-nacoes-ricas-e-pobres-esta-diminuindo-no-mundo-24072014
[9] http://pt.actualitix.com/pais/wld/indice-de-desenvolvimento-humano-por-pais.php
[10] http://exame.abril.com.br/economia/as-13-economias-que-devem-mais-crescer-nos-proximos-anos/
[11] http://www.heritage.org/index/ranking
[12] http://spotniks.com/5-ideias-de-esquerda-que-jamais-fizeram-o-menor-sentido-mas-voce-sempre-acreditou/
[13] http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/09/brasil-e-exemplo-na-reducao-da-pobreza-segundo-relatorio-da-onu
[14] https://nacoesunidas.org/pobreza-permanece-concentrada-no-norte-e-no-nordeste-do-brasil-diz-estudo-centro-onu/
[15] http://www.raulvelloso.com.br/o-dia-do-juizo-fiscal/
[16] http://www.saraiva.com.br/o-mito-do-governo-gratis-8184803.html
[17] http://www.raulvelloso.com.br/o-dia-do-juizo-fiscal/
[18] http://exame.abril.com.br/economia/7-paises-da-america-latina-que-crescem-o-dobro-do-brasil/
[19] http://exame.abril.com.br/economia/7-paises-da-america-latina-que-crescem-o-dobro-do-brasil/
[20] http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2016/12/02/internas_economia,559690/extrema-pobreza-volta-a-crescer-no-brasil-apos-seis-anos-aponta-ibge.shtml

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