Recentemente o grupo de
comunicação online “Voyager” publicou[1] uma matéria na qual tentou
demonstrar supostas afinidades entre a doutrina liberal e o fascismo. Numa
primeira leitura, a mensagem do texto até se afigura estranhamente razoável.
Após uma abordagem mais rígida, utilizando-se de uma pesquisa mais acurada e um
olhar mais crítico acerca das fontes utilizadas, o texto parece ruir até
desaparecer por completo. Abaixo, seleciono os principais equívocos da matéria
que evidenciam porque a Voyager não faz a mínima ideia (ou age de má fé) do que
está dizendo sobre o fenômeno do fascismo e a doutrina liberal.
Pareto
e a Teoria das Elites
O artigo inicia-se com a famosa ligação
histórica entre Pareto e Mussolini, arvorando-se sobre a posição historiográfica
que considera Vilfredo Pareto o mentor intelectual do fascismo. A despeito das
controvérsias se Pareto pode ou não ser considerado “pai” do fascismo, é ponto
pacífico a admiração que nutria por Mussolini.
Formidável intelectual francês, foi Pareto
fundamental para o desenvolvimento de modernos conceitos e instrumentos de
cálculo econométrico a respeito da formação de preços e variações de renda.
Talvez seja a “Lei de Pareto” a sua contribuição mais decisiva e conhecida para
a ciência econômica. No campo da sociologia e da política, é inquestionável sua
importância para o desenvolvimento do conceito de “elite” aplicada à moderna
ciência política, segundo o qual em toda a sociedade existe sempre apenas um
minoria que, por diversas formas, faz-se detentora do poder em detrimento de
uma maioria que dele está privada[2]. Ora, a riqueza de tal
conceito – que Pareto concebia como tendo em si não apenas a articulação bem
organizada de um pequeno grupo político ou econômico, mas sobremaneira também
intelectual – tem sua origem em outro teórico anterior, Gaetano Mosca, também
considerado como um dos fundadores da moderna ciência política e para o qual,
assim como para Pareto, a ciência da política consistiria numa análise
descritiva do fenômeno do poder político e hierárquico observado em sociedade.
Neste sentido, para ambos, a diferença entre
governantes e governados, a ordem hierárquica e sujeição de uma maioria a uma
minoria “elitista” fazia-se fator recorrente ao longo da história, fato
praticamente natural e que sancionava o pensamento de que um governo
igualitário, de governo direto e massificado era não apenas impossível, como
algo indesejável.
É indiscutível que Pareto foi, de certa forma,
um liberal, mas esta constatação deve ficar limitada ao campo de seu pensamento
econômico. Com efeito, salvo o pensamento contratualista (em especial Locke)
para o qual a desigualdade material não era alvo de reflexão, encontramos ao
longo da tradição liberal uma forte aversão a qualquer tipo de racionalização
ou justificação do governo de elites aristocráticas, oligárquicas ou feudais. A
primeira constatação deste tipo pode ser encontrada nos escritos de Adam Smith[3], o qual afirmava, clara e
concisamente, ser a emergência do capitalismo o fator por excelência
dissociador dos elementos riqueza e poder. Ao longo de sua obra A Riqueza das Nações[4],
argumenta Smith que o novo tipo de arranjo sócio-econômico nascido com o fim do
feudalismo e impulsionado em grande velocidade com o advento da Revolução
Industrial traria implicações ao campo da política ao depositar um poder cada
vez maior de decisão e autonomia em cada indivíduo, por “menor” que pudesse parecer
aos olhos de um governante.
De forma análoga, no século subsequente encontramos
nos escritos de Alexis de Toqueville e John Stuart Mill outras importantes
considerações a respeito deste assunto. Ao primeiro, o fenômeno da democracia[5] consistia num movimento
irresistível de igualdade civil que abarcaria a todas as nações num dado
momento da história humana, fenômeno este que obviamente poderia colocar em
risco a tão amada liberdade. Já para o segundo, a doutrina liberal era antes de
tudo um pensamento político que devia baixar por terra as tradições “opressoras”
da sociedade que imprimiam sobre os cidadãos e a liberdade de agir e pensar
poderosos tabus e regras normativas de comportamento[6]. Num campo ainda mais
abstrato da filosofia, devemos inclusive a Immanuel Kant conceitos importantíssimos
tais como espaço público, uso da razão, autonomia[7]. Inclusive em seu
pensamento político podemos observar uma intransigente devesa dos valores
republicanos de liberdade individual, liberdade de imprensa e autodeterminação,
que à época digladiava-se fortemente com o despotismo iluminado prussiano.
Voltando a Pareto, não se pode deixar de
afirmar que ele fez-se forte crítico do socialismo e dos regimes de massa, mas
é igualmente fundamental salientar que sua teoria política pouco ou
praticamente nada se associa com o pensamento democrático e político de grande
parte dos liberais que compõem esta longa tradição. É bem possível, inclusive,
interpretar o forte apoio fornecido a Mussolini quando de sua subida ao poder
em virtude do receio de que o bolchevismo e sua filosofia adentrassem aos
pórticos de Roma e igualmente de toda a Itália.
O
Corporativismo Fascista
No tópico seguinte, pode-se observar a tamanha
desonestidade que impera por trás deste texto. Diz o autor: “De 1922 a 1925, o regime de Mussolini seguiu
a política econômica do laissez-faire, sob o comando de um ministro de finanças
liberal, Alberto De Stefani. O ministro reduziu impostos, regulações,
restrições comerciais e permitiu que empresas competissem umas com as outras[8].”
Ora, se digitarmos este mesmo trecho na plataforma google, encontramos não
apenas a sua origem, mas percebemos, igualmente, a omissão do restante do texto
de forma a enquadrar a mensagem inicial à finalidade ideológica que o
orientava. Na fonte original:
De 1922 a 1925, o regime de Mussolini
seguiu a política econômica do laissez-faire, sob o comando de um ministro de
finanças liberal, Alberto De Stefani. O ministro reduziu impostos, regulações,
restrições comerciais e permitiu que empresas competissem umas com as outras. Porém [e aqui continua a fonte original,
omitida pelo canal Voyager], essa oposição ao protecionismo e aos subsídios
desagradava alguns líderes da indústria e De Stefani acabou tendo que pedir
demissão. Quando Mussolini consolidou sua ditadura, em 1925, a Itália entrou em
uma nova fase. Como vários outros líderes daquele tempo, Mussolini acreditava
que a economia não funcionaria construtivamente sem a supervisão do governo.
Como um prenúncio do que aconteceria na Alemanha Nazista e até, de certa forma,
nos Estados Unidos após o New Deal, Mussolini iniciou um grande programa que
incluía um imenso déficit do governo, obras públicas e, por fim, investimento militar.
O Fascismo de Mussolini avançou ainda
mais com a criação do Estado Corporativo, uma estrutura supostamente
pragmática, sob a qual as decisões econômicas eram tomadas por conselhos
compostos por trabalhadores e empregadores que representavam o comércio e as
indústrias. A partir desse arranjo, a suposta rivalidade entre os empregados e
os empregadores deveria ser extinta, evitando que a luta de classes
prejudicasse a luta nacional. No Estado Corporativo, por exemplo, as greves
seriam ilegais e ações trabalhistas deveriam ser mediadas por uma agência
estatal[9].
Por aqui observamos o erro
gigantesco em salientar apenas aquilo que convém a sua consciência, deixando às
escusas as partes subsequentes. Até mesmo para os iniciados em economia
liberal, o principal sinônimo desta teoria pode ser descrita corretamente como
a soberania do consumidor. Veja como conclui o autor da fonte Ordem Livre:
Mussolini também eliminou a capacidade
do mercado de tomar decisões independentes: o governo controlava todos os
preços e salários, e firmas de qualquer indústria poderiam ser forçadas a fazer
parte de um cartel, caso a maioria se posicionasse nesse sentido. Os líderes
das grandes empresas tinham alguma participação na elaboração de políticas,
enquanto os pequenos empreendedores eram, na verdade, transformados em
empregados do estado, competindo com burocracias corruptas. Eles aceitavam sua
submissão na esperança de que as restrições fossem temporárias. Vendo a terra
como bem fundamental à nação, o Estado fascista dominou a agricultura de uma
forma ainda mais completa, definindo safras, dividindo fazendas e fazendo das
ameaças de expropriação um instrumento para reforçar suas ordens.
[...]Na medida em que a Segunda Guerra
Mundial se aproximava, os sinais do fracasso do fascismo na Itália eram
evidentes: o consumo privado per capita estava abaixo dos níveis de 1929 e a
produção industrial italiana, entre 1929 e 1939, tinha crescido apenas 15 por
cento - menos que as taxas de crescimento dos outros países da Europa
Ocidental. A produtividade do trabalho estava baixa e os preços de produção não
eram competitivos. O erro econômico do fascismo residia na transferência do
poder de decisão dos empreendedores para os burocratas do governo e na
distribuição dos recursos, feita através de decretos, em detrimento do mercado.
Mussolini desenvolveu seu sistema para
abastecer as necessidades do Estado, não dos consumidores. Esse sistema, no
fim das contas, não serviu a nenhum dos dois[10].
Mas esta atitude censurável não fica apenas
nisto. O autor da Voyager conclui o tópico com um trecho de um discurso de
Mussolini proclamado ainda em 1922, anos antes do arrefecimento do regime e da
mudança de políticas econômicas que caracterizam o fascismo italiano e ainda
são consideradas características praticamente intrínsecas desta forma de
regime. Esta mudança de posição do Dulce é evidenciada em discursos posteriores:
“O fascismo é definitivamente e
absolutamente oposto às doutrinas do liberalismo, tanto na esfera econômica
quanto na política[11]”.
Também tornou-se especialmente conhecida sua famosa tríada, vinda à público em
1933: “Tudo para o Estado, nada contra o
Estado, nada fora do Estado”.
Estas noções de regulação e amor ao Estado
ecoaram inclusive no movimento integralista brasileiro, cujas propostas,
embebidas por Plinio Salgado e Miguel Reale, transparecem no Manifesto de
Outubro de 1932 e deixam claro o viés anti-liberal e fortemente popular e
trabalhista do fascismo:
Uma Nação, para progredir em paz, para
ver frutificar seus esforços, para lograr prestígio no Interior e no Exterior,
precisa ter uma perfeita consciência do Princípio de Autoridade [...]Precisamos
de hierarquia, de disciplina, sem o que só haverá desordem. Um governo que saia
da livre vontade de todas as classes é representativo da Pátria: como tal deve
ser auxiliado, respeitado, estimado e prestigiado. Nele deve repousar a
confiança do povo.
[...]A questão social deve ser
resolvida pela cooperação de todos, conforme a justiça e o desejo que cada um
nutre de progredir e melhorar. O direito de propriedade é fundamental para nós,
considerado no seu caráter natural e pessoal. O capitalismo atenta hoje contra
esse direito, baseado como se acha no individualismo desenfreado, assinalador
da fisionomia do sistema econômico liberal-democrático. Temos de adotar novos
processos reguladores da produção e do comércio, de modo que o governo possa
evitar os desequilíbrios nocivos à estabilidade social [...]Nós ensinamos a
doutrina da coragem, da esperança, do amor à Pátria, à Sociedade, à Vida, no
que esta tem de mais belo e de conquistável, da ambição justa de progredir, de
possuir os bens, de elevar-se, de elevar a família. Não destruímos a pessoa,
como o comunismo; nem a oprimimos, como a liberal-democracia; dignificamo-la.
Queremos o operário, com garantia de salários adequados às suas necessidades,
interessando-se nos lucros conforme o seu esforço e capacidade; de fronte
erguida, tomando parte em estudos de assuntos que lhes dizem respeito; de olhar
iluminado, como um homem livre; tomando parte nas decisões do governo, como um
ente superior[12].
A
Distorção das Obras de Mises e Hayek:
Não satisfeito com o que fizera até li, o
autor da Voyager prossegue em sua empreitada, agora demonstrando seu profundo
desconhecimento das obras O Caminho da
Servidão, de Friedrich Hayek, e O
Liberalismo, de Ludwig von Mises.
Utilizando-se de citações fora de contexto, o
autor parece descurar, primeiramente, da tese central da obra de Hayek já
citada, a saber, a caracterização[13] do fascismo e do
totalitarismo como desmembramentos do socialismo e consequências necessariamente
advindas do planejamento central econômico que se sustentava sobre rígidos
mecanismos de distribuição e condução da atividade econômica para perseguir
seus fins sociais considerados “superiores”. Em seu entender, a substituição de
um modelo de livre iniciativa por um intervencionismo cada vez mais presente e
regulador só faria conduzir, paulatinamente, ao desaparecimento das liberdades
individuais e da democracia. O Corporativismo de estado, deste modo, seria apenas
um estágio intermediário entre a sociedade livre e o regime político mais
autoritário e inteiramente totalitário.
Por outro lado, no que tange às citações de
Mises, os trechos são dispostos a inverter totalmente o argumento do autor na
obra também citada. Na primeira citação que faz de Mises “...Tal moderação resulta do fato de que os
pontos de vista tradicionais do liberalismo continuam a exercer influência inconsciente
sobre os fascistas”, a Voyager não se dá conta do pensamento do autor a
respeito do fascismo, isto é, não se dá conta de que, segundo Mises, este
fenômeno em seu início foi de fato freado pelos princípios racionais do liberalismo[14], tendo apenas deixado de
lado a conclamação dos princípios caros à civilização ocidental, como a
propriedade privada, o direito à vida ou a paz a partir da intensificação do
bolchevismo e de suas atrocidades. Como infere Mises em sua obra:
A adesão sincera a uma política de
aniquilamento dos adversários e os assassinatos cometidos em sua busca deram
origem ao movimento de oposição.
Contudo, caíram, de vez, as máscaras dos inimigos não comunistas do
liberalismo. Até então, acreditavam que
mesmo em luta contra um inimigo odioso era, ainda, necessário respeitar certos
princípios liberais. Haviam-se obrigado,
mesmo que de modo relutante, a excluir o assassinato da lista de medidas a
serem utilizadas em suas lutas políticas.
Haviam-se conformado a muitas limitações, na perseguição à imprensa
opositora e na censura à palavra. Ora,
logo compreenderam que lhes surgiam opositores que não observavam tais
recomendações e para quem era lícito toda forma de eliminação do
adversário. Os inimigos militaristas e
nacionalistas da Terceira Internacional sentiram-se ludibriados pelo
liberalismo. O liberalismo, assim
pensavam, contivera sua mão, ao desejarem esmagar os partidos revolucionários,
quando isto ainda era possível. Se o
liberalismo não tivesse impedido, teriam cortado pela raiz, assim acreditavam,
os movimentos revolucionários[15].
Já na última citação que faz do autor de A Ação Humana, “Não se pode negar que o fascismo e movimentos semelhantes, visando ao
estabelecimento de ditaduras, estejam cheios das melhores intenções e que sua
intervenção, até o momento, salvou a civilização europeia[16]...”,
A Voyager se esquece, ou finge não saber, que tal afirmação consiste antes
num juízo de fato: os regimes ditatórias como o nazismo, o socialismo soviético
e o fascismo tinham excelentes razões para fundamentar suas violências diárias.
Notadamente a busca de um bem comum e de um tipo de justiça social que
aplacasse as desigualdades constituíam o cerne de praticamente todas estas
ideologias. Da mesma forma, segundo Mises, o fascismo, pelo menos em seu
início, esforçava-se para preservar valores que haviam se erigido ao longo de
séculos na Europa, como a liberdade, a autonomia e a propriedade privada. Neste
sentido, evidencia Mises um fato histórico
O fascismo pode triunfar, hoje, porque
a indignação universal contra as infâmias cometidas pelos socialistas e
comunistas lhes concedeu as simpatias de largos círculos. Mas, quando a memória ainda fresca dos crimes
dos bolcheviques estiver empalidecida, o programa dos socialistas, de novo,
exercerá poder de atração sobre as massas, porque os fascistas nada fazem para
combatê-los, a não ser suprimir as ideias socialistas e perseguir quem as
divulgue. Se, de fato, quisessem
combater o socialismo, deveriam opor-lhe suas ideias[17].
Mises, deste modo, de forma alguma
correlacionava o fascismo com o liberalismo:
O
que distingue a tática política liberal da do fascismo não é uma diferença de
opinião relativa à necessidade de usar a força armada para resistir a atacantes
armados, mas uma diferença na consideração do fundamento do papel da violência
na luta pelo poder. O grande perigo que
ameaça a política interna na perspectiva do fascismo reside na sua total fé no
decisivo poder da violência. Para
assegurar o êxito, deve-se estar imbuído da vontade de vencer e de sempre
proceder de modo violento. É este o mais
alto princípio[18].
Mises
e Dollfuss
Outra acusação de forte peso consiste na
associação entre Mises e o fascismo de Dollfuss, líder político da Áustria
morto pelos nazistas pouco antes da anexação do país pelos alemães, às vésperas
da Segunda Guerra Mundial. Com efeito, Mises de fato foi conselheiro econômico
durante o governo Dollfuss. A principal razão disto consistiu efetivamente em
impedir o avanço das políticas econômicas fascistas, corporativistas que até
então haviam legado apenas consequências nefastas para o país. Como o próprio
esclarece em suas correspondências pessoais, seus mais importantes papeis nesse
período foram os de travar a inflação e prevenir a falência do banco central
que se encontrava em crise[19]. Em momento algum, é
vista qualquer afirmação ou endosso por parte do intelectual austríaco das
visões ideológicas ou das medidas políticas arbitrárias engendradas por
Dollfuss. Muito pelo contrário, o que se pode observar são severas críticas ao
mesmo.
Hayek
e Pinochet
No mesmo sentido das
acusações contra Mises seguem estas contra Hayek, porém com um agravante: o
trecho mencionado pela Voyager que supostamente teria sido mencionado por
Hayek, e que contém de fato uma forte afirmação de caráter utilitário não pode
ser encontrada na fonte mencionada. Segundo a Voyager, em entrevista ao periódico
El Mercúrio em abril de 1981, Hayek teria dito: “Uma sociedade livre requer certas morais que em última instância se
reduzem à manutenção das vidas; não à manutenção de todas as vidas, porque
poderia ser necessário sacrificar vidas individuais para preservar um número
maior de vidas. Portanto, as únicas normas morais são as que levam ao ‘cálculo
de vidas’: a propriedade e o contrato”.
Ocorre que, ao irmos a fonte desta entrevista,
não apenas não foi isto que Hayek mencionou como, ainda por cima, tal
informação não pode ser encontrada na entrevista. Conforme a íntegra da mesma[20], a afirmação mais
polêmica do filósofo e do economista austríaco naquela oportunidade referia-se
à seguinte pergunta: “Em sua opinião, deveríamos ter ditaduras?”, ao que,
sucintamente, se manifestou dizendo que, entre viver numa ditadura
ferrenhamente intervencionista e outra economicamente livre, sua preferência
pendia para a segunda:
Bueno, yo diría que estoy totalmente
en contra de las dictaduras, como instituciones a largo plazo. Pero una
dictadura puede ser un sistema necesario para un período de transición. A veces
es necesario que un país tenga, por un tiempo, una u otra forma de poder
dictatorial. Como usted comprenderá, es posible que un dictador pueda gobernar
de manera liberal. Y también es posible para una democracia el gobernar con una
total falta de liberalismo. Mi preferencia personal se inclina a una dictadura
liberal y no a un gobierno democrático donde todo liberalismo esté ausente[21].
No decorrer da entrevista,
também, Hayek esclarece sua posição referente à necessidade temporária de
ditaduras. Fornecendo exemplos como os da Inglaterra de Cromwell e Portugal de
Salazar, o filósofo deixa claro que a experiência histórica nestes casos
comprovou que a redemocratização nestes países foi apenas possível com a
consolidação de diversas instituições criadas durante tais períodos sanguinários,
sendo suas principais contribuições o fato de terem impedido que tais
comunidades políticas continuassem no caos prolongado de guerras ou
turbulências civis; embora em nenhum momento afirme que isto por si só possa
constituir um juízo universal capaz de considerar, por isto mesmo, um regime
ditatorial como algo desejável e até mesmo aceitável[22]. Novamente, trata-se de
uma constatação histórica que não esclarece a opinião, o julgamento de valor de
seu autor sobre determinada circunstância.
Além
disso, é necessário contextualizar que Hayek diferencia a democracia no sentido
de poder ilimitado e, portanto, despótico, da democracia limitada e
arregimentada sobre o estado de direito e a plena consolidação das liberdades
individuais. É com este viés que devemos entender as críticas que destrinchou,
ao longo de toda sua obra, aos regimes despóticos e anti-liberais que
utilizavam o termo “democracia” para fornecer um salvo-conduto a suas ações.
Considerações
Finais
Por tudo o que foi exposto
acima, pode-se considerar que o fascismo e a doutrina liberal, além de
diametralmente opostos em valores, considerações políticas e econômicas, nascem
em momentos distintos da história europeia e correspondem a finalidades e
contextos totalmente diferentes.
De fato, conforme menciona o sociólogo Demetrio
Magnoli neste vídeo[23], o fascismo, por
unanimidade histórica, consistiu num movimento político arregimentado, de forma
absoluta, sobre o lumpem-proletariado, sobre uma massa de trabalhadores que
buscava num líder demagógico a resolução de suas dificuldades e obstáculos de
emancipação. Neste sentido, o fascismo é sobremaneira a antítese a qualquer liberalismo
político e econômico: é populista, trabalhista, anti-liberal e autoritário,
valendo-se da força, e não da cooperação voluntária entre os indivíduos, para
perseguir e conquistar os objetivos a que se propõe.
[1] http://voyager1.net/historia/pare-de-achar-que-liberalismo-e-fascismo-sao-opostos/
[2] http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1135
[3] http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=3775
[4] https://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/69198/mod_resource/content/3/CHY%20A%20Riqueza%20das%20Na%C3%A7%C3%B5es.pdf.
Ver especialmente o livro III.
[5] http://www.gutenberg.org/files/815/815-h/815-h.htm
[6] http://socserv2.socsci.mcmaster.ca/econ/ugcm/3ll3/mill/liberty.pdf
[7] https://plato.stanford.edu/entries/kant-social-political/
[8] http://voyager1.net/historia/pare-de-achar-que-liberalismo-e-fascismo-sao-opostos/
[9] http://ordemlivre.org/posts/a-economia-do-fascismo
[10] Ibidem.
[11] http://spotniks.com/pare-de-chamar-os-outros-de-fascistas-voce-nem-sabe-o-que-essa-palavra-quer-dizer/
[12] http://www.integralismo.org.br/?cont=75
[13] http://www.mises.org.br/files/literature/O%20CAMINHO%20DA%20SERVID%C3%83O%20-%20WEB.pdf
[14] https://idealismoradical.wordpress.com/2014/12/17/mises-o-fascista-o-que-e-visto-um-argumento-e-o-que-nao-e-visto-o-absurdo/
[15] http://www.mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=282
[16] http://voyager1.net/historia/pare-de-achar-que-liberalismo-e-fascismo-sao-opostos/
[17] http://www.mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=282
[18] Ibidem.
[19] http://www.il-al.com.br/mises-o-fascista/
[20] http://www.fahayek.org/index.php?option=com_content&task=view&id=121
[21] https://puntodevistaeconomico.wordpress.com/2011/05/26/hayek-pinochet-y-la-democracia/
[22] http://eprints.lse.ac.uk/63318/1/__lse.ac.uk_storage_LIBRARY_Secondary_libfile_shared_repository_Content_Caldwell%2C%20B_Hayek%20and%20Chile_Cladwell_Hayek%20and%20Chile_2015.pdf
[23] https://www.youtube.com/watch?v=xWeQOxcY7i8
Excelente. Você poderia desmascarar mais textos desse site que de forma desonesta, tem convencido muita gente.
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirSegue novo texto sobre a Voyager:
http://ocorreioliberal.blogspot.com.br/2017/10/impostos-e-curva-de-laffer-o-site.html
Por favor, por mais textos como esse!
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirSegue novo texto sobre a Voyager:
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