No debate entre os candidatos à
prefeitura de São Paulo realizado no último domingo, 25/09, e transmitido pela rede Record de televisão, uma frase proferida
pelo candidato tucano João Doria Junior repercutiu negativamente entre alguns
eleitores e grupos sociais. Na fala em questão, o candidato mencionou que “as
mulheres possuem uma propensão natural a artes, cultura e lazer.”
A sentença reascendeu as chamas de um ardoroso
debate contemporâneo, o qual condena sentenças do mesmo teor como meras
especulações baseadas em estereótipos sociais de fundo preconceituoso e
machista.
Nos termos dos críticos de Dória, sua frase
teve a infelicidade de reproduzir a opressão e a desigualdade de gênero
resultantes do processo histórico de nossa sociedade. É evidente, que muitas de nossas heranças
culturais e sociais, que moldam nosso comportamento, foram historicamente construídas
ao longo de inúmeras gerações. Falar, portanto, numa possível propensão e
essência naturais consistira num mero ato de naturalização de um processo
artificial e, segundo dizem, arbitrário.
A frase do candidato, portanto, não refletiria
senão um puro preconceito, um machismo social típico da própria sociedade em
que vivemos. O problema, no entanto, surge quando nos debruçamos sobre a
realidade tangível: segundo dados do IBGE[1]
em uma pesquisa realizada em 2012, a participação das mulheres no percentual da
população economicamente ativa chegou a 46,1%, participação duas vezes maior do
que a registrada em 1976, de 28,8%. Neste expressivo aumento, agora segundo
pesquisa do instituto Catho Online[2],
realizada também em 2012, as mulheres passaram a representar mais da metade da
força de trabalho nas áreas de educação, com 62%; recursos humanos, com incríveis
73%; medicina e saúde, com 52%; e administrativa, com 60%, ao passo que os
homens apresentavam um índice maior de participação nas áreas jurídica, com 53%;
engenharia, com 80% e Tecnologia, com surpreendentes 84%.
Algo semelhante se observa quanto o quesito é
educação superior. Segundo censo divulgado pelo MEC[3]
em 2012, dentre os 10 cursos de ensino superior mais procurados por homens e mulheres
no Brasil, apenas Administração, Direito e Ciências Contábeis eram vistos em
ambas as listas. No mais, os cursos mais procurados por elas tendem a ser
Pedagogia, Psicologia, Fisioterapia, Enfermagem, Farmácia, Serviço Social e
Gestão de pessoas/Recursos Humanos. Por eles, vemos Engenharia civil, elétrica,
mecânica, de produção, educação física e gestão logística.
As mesmas diferenças de “perfil” também
parecem se repetir a nível internacional no ocidente. Conforme os dados
apresentados no documentário norueguês “Lavagem Cerebral[4]”,
de 2011, nos países tidos como livres e nos quais a igualdade de gêneros tende
a ser maior, as mulheres compõem imensa maioria do quadro de profissionais das
áreas de educação, enfermagem e psicologia. Os homens, por sua vez, ainda
integram boa parte da força empregada nas áreas de engenharia, ciências exatas,
tecnologia e construção civil.
“Mas qual seria a razão destas
diferenças?” Ainda segundo os especialistas consultados no documentário, a
causa deste fenômeno parece residir no processo de evolução de nossa espécie,
percurso no qual as características que foram capazes de propiciar uma melhor
adaptação e conseguinte sobrevivência de homens e mulheres foram adicionadas no
escopo natural genético e transmitidas às gerações subsequentes. Isto ajudaria
a explicar porque, mesmo em ambientes cada vez mais marcadas pela ausência de
restrições a ambos os sexos, os tão difamados estereótipos se repetem e se
intensificam.
Não quero com isso afirmar que há, conforme
Goethe expressou há mais de duzentos anos, um “eterno feminino”, uma condição
atemporal e imutável que define, de antemão, as características comuns às
mulheres. Mas, o aspecto mais notável trazido com esta reflexão é, sem dúvida, a
aceitação de que João Doria Junior ao menos não se equivocou ao afirmar que as
mulheres possuem certas propensões naturais. Teria sido mais assertivo e nos
conformes dos dados empíricos se tivesse dito que tanto homens, quanto mulheres,
apresentam propensões que poderíamos chamar de naturais. Ao analisarmos os dados divulgados, podemos
concluir que no mais das vezes, homens e mulheres apresentam e irão apresentar desejos,
interesses e características distintos e que parecem reforçar as afirmações estereotipadas
sobre diferenças de gênero que tanto ouvimos. É óbvio que isto não nos confere
do direito de dizer que há uma essência natural em cada um em razão de um determinismo
biológico, mas com certeza nos esclarece que, coeteris paribus, quanto maior a igualdade de condições também no
que diz respeito ao critério “diferença por sexo/gênero”, mais as diferenças
entre um e outro se manifestam.
[1]http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/Mulher_Mercado_Trabalho_Perg_Resp.pdf
[2] http://blog.catho.com.br/2012/03/07/pesquisa-da-catho-online-destaca-o-aumento-da-participacao-das-mulheres-no-mercado-de-trabalho/
[3] http://exame.abril.com.br/brasil/album-de-fotos/as-10-graduacoes-preferidas-pelos-homens-e-pelas-mulheres-no-brasil#10
[4] https://www.youtube.com/watch?v=tiJVJ5QRRUE
Larguem a mão de hipocrisia e de medinho de falar. Somos diferentes sim, senão não seriam homens e mulheres. Essa ideologia imbecil de igualar tudo é coisa de gente sem noção, retardados que querem que homens e mulheres sejam iguais mas insistem que negros e brancos são diferentes. Gente completamente retardada.
ResponderExcluir