A obra “A Escola Austríaca[1]”, do professor de economia
da universidade Rey Juan Carlos, Madrid, Jesus Huerta de Soto é um material
prodigioso no que tange a construção de um método sucinto e direto sobre a
apresentação das ideias principais de uma determinada vertente do pensamento
econômico que, sob um conjunto claro e conciso, dão forma e vida à expressão Escola Austríaca.
Seu principal objetivo pode ser definido como
uma tentativa – bem sucedida, a meu ver – de esclarecer os principais pontos
das principais obras, as contribuições e as origens de cada conceito
fundamental desta escola econômica e político-social. Tem a felicidade de
situar, com riqueza de fontes e detalhes, a origem primeira de estudos sobre o
valor subjetivo, sobre a reserva fracionária da moeda, sobre o papel coordenador
e integrador da ação humana numa sociedade livre – e, claro, sobre as balizas
irrevogáveis da ciência social que pode ser chamada economia: a subjetividade e
a função empresarial.
Logo no primeiro capítulo, “Princípios
essenciais da Escola Austríaca”, já nos deparamos com uma tabela ilustrativa
capaz de situar as principais diferenças paradigmáticas entre esta e as demais
escolas econômicas, reunidas sob o título de neoclássicas. Mais abaixo, temos
aquilo que poderia ser resumido como a função essencial e verdadeira, sob o
viés austríaco, do saber econômico: “Por
isso, para a Escola Austríaca, a Ciência Econômica, longe de ser um conjunto de
teorias sobre escolha ou decisão, é um corpus teórico que trata dos processos
de interação social, que poderão ser mais ou menos coordenados, dependendo da
capacidade demonstrada no exercício da ação empresarial por parte dos agentes
implicados[2]”.
Huerta de Soto é também preciso ao demonstrar
o significado e a associação irrevogável entre os conceitos que complementam o
título de sua obra. Situa com excelência o mercado como um arranjo social e
econômico não dado, mas sujeito a transformações constantes em razão da ação
livre e imprevisível dos agentes que nele atuam e que o compõem; resultado, em
suma, da descoberta e criação espontânea e livre de informações, a qual
nomeamos função empresarial e que, quando coordenadas sem intervenção entre os
indivíduos, refletem-se na criação de novos fenômenos e no sistema de preços
capaz de fornecer a todos os agentes a informação necessária acerca dos insumos
e sua respectiva combinação. A obra
logra, assim, de um escopo sólido e explicativo acerca do funcionamento da
sociedade.
O diálogo entre os principais nomes da Escola
progride conforme a leitura dos demais capítulos avança. É assombroso ao
revelar a origem escolástica, praticamente esquecida, de seus principais
pressupostos. É eficiente ao explicar os aspectos da teoria do valor subjetivo de
Menger e desmistificar as falsas associações que se fizeram e ainda fazem a seu
correlato “utilidade marginal”. É majestoso ao explanar o conceito de capital -
assumido por toda a Escola – e juro de Böhm-Bawerk, bem como os principais
pontos da crítica aterradora à teoria da exploração marxiana. É, ao mesmo
tempo, pródigo e deferente ao apresentar as contribuições de Mises, a
dinamicidade empresarial e o problema do cálculo econômico que subsistem numa
economia socialista. E é sábio ao combinar com perfeição os termos de Hayek na
apresentação que faz do seu conceito de ordem espontânea do mercado e da
sociedade civil. Por fim, é objetivo, sem ser contencioso, ao atualizar o leitor
sobre atual debate da Escola com referências acerca de seus nomes mais recentes,
ainda em atividade.
Trata-se, desse modo, de um livro cuja leitura
faz-se obrigatória. Tal como Ubiratan Iorio e Hans Hermann Hoppe, Huerta de
Soto nos transporta ao âmago do pensamento austríaco, baluarte de nossa
liberdade nestes tempos sombrios e aterradores. Nos esclarece, sem a menor a
dúvida, aquilo que está por trás e que, concomitantemente, movimenta toda a
abordagem da Escola: a ação humana, entendida como um processo dinâmico,
inserida no tempo e que possui como perspectiva metodológica o subjetivismo
essencial a qualquer leitura racional dos fenômenos políticos, econômicos e
sociais. É, pois, um livro essencial aquele que desejoso está de conhecer o
mundo que o rodeia.
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