"Quando vejo o princípio de liberdade em ação, vejo agir um princípio vigoroso, e isto, de início, é tudo que sei. É o mesmo caso de um líquido; os gases que ele contém se liberam bruscamente: para se fazer um julgamento, é necessário que o primeiro movimento se acalme, que o liquido se torne mais claro, e que nossa observação possa ir um pouco além da superfície".
Edmund Burke.

domingo, 9 de outubro de 2016

Resenha: “A Escola Austríaca. Mercado e Criatividade Empresarial”

 A obra “A Escola Austríaca[1]”, do professor de economia da universidade Rey Juan Carlos, Madrid, Jesus Huerta de Soto é um material prodigioso no que tange a construção de um método sucinto e direto sobre a apresentação das ideias principais de uma determinada vertente do pensamento econômico que, sob um conjunto claro e conciso, dão forma e vida à expressão Escola Austríaca

 Seu principal objetivo pode ser definido como uma tentativa – bem sucedida, a meu ver – de esclarecer os principais pontos das principais obras, as contribuições e as origens de cada conceito fundamental desta escola econômica e político-social. Tem a felicidade de situar, com riqueza de fontes e detalhes, a origem primeira de estudos sobre o valor subjetivo, sobre a reserva fracionária da moeda, sobre o papel coordenador e integrador da ação humana numa sociedade livre – e, claro, sobre as balizas irrevogáveis da ciência social que pode ser chamada economia: a subjetividade e a função empresarial.

 Logo no primeiro capítulo, “Princípios essenciais da Escola Austríaca”, já nos deparamos com uma tabela ilustrativa capaz de situar as principais diferenças paradigmáticas entre esta e as demais escolas econômicas, reunidas sob o título de neoclássicas. Mais abaixo, temos aquilo que poderia ser resumido como a função essencial e verdadeira, sob o viés austríaco, do saber econômico: “Por isso, para a Escola Austríaca, a Ciência Econômica, longe de ser um conjunto de teorias sobre escolha ou decisão, é um corpus teórico que trata dos processos de interação social, que poderão ser mais ou menos coordenados, dependendo da capacidade demonstrada no exercício da ação empresarial por parte dos agentes implicados[2].  

 Huerta de Soto é também preciso ao demonstrar o significado e a associação irrevogável entre os conceitos que complementam o título de sua obra. Situa com excelência o mercado como um arranjo social e econômico não dado, mas sujeito a transformações constantes em razão da ação livre e imprevisível dos agentes que nele atuam e que o compõem; resultado, em suma, da descoberta e criação espontânea e livre de informações, a qual nomeamos função empresarial e que, quando coordenadas sem intervenção entre os indivíduos, refletem-se na criação de novos fenômenos e no sistema de preços capaz de fornecer a todos os agentes a informação necessária acerca dos insumos e sua respectiva combinação.  A obra logra, assim, de um escopo sólido e explicativo acerca do funcionamento da sociedade.

 O diálogo entre os principais nomes da Escola progride conforme a leitura dos demais capítulos avança. É assombroso ao revelar a origem escolástica, praticamente esquecida, de seus principais pressupostos. É eficiente ao explicar os aspectos da teoria do valor subjetivo de Menger e desmistificar as falsas associações que se fizeram e ainda fazem a seu correlato “utilidade marginal”. É majestoso ao explanar o conceito de capital - assumido por toda a Escola – e juro de Böhm-Bawerk, bem como os principais pontos da crítica aterradora à teoria da exploração marxiana. É, ao mesmo tempo, pródigo e deferente ao apresentar as contribuições de Mises, a dinamicidade empresarial e o problema do cálculo econômico que subsistem numa economia socialista. E é sábio ao combinar com perfeição os termos de Hayek na apresentação que faz do seu conceito de ordem espontânea do mercado e da sociedade civil. Por fim, é objetivo, sem ser contencioso, ao atualizar o leitor sobre atual debate da Escola com referências acerca de seus nomes mais recentes, ainda em atividade.

 Trata-se, desse modo, de um livro cuja leitura faz-se obrigatória. Tal como Ubiratan Iorio e Hans Hermann Hoppe, Huerta de Soto nos transporta ao âmago do pensamento austríaco, baluarte de nossa liberdade nestes tempos sombrios e aterradores. Nos esclarece, sem a menor a dúvida, aquilo que está por trás e que, concomitantemente, movimenta toda a abordagem da Escola: a ação humana, entendida como um processo dinâmico, inserida no tempo e que possui como perspectiva metodológica o subjetivismo essencial a qualquer leitura racional dos fenômenos políticos, econômicos e sociais. É, pois, um livro essencial aquele que desejoso está de conhecer o mundo que o rodeia.  



[1] http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=30
[2] Ibidem, p. 12.

Nenhum comentário:

Postar um comentário