Em outubro deste ano realizou-se a inclusão,
na UFABC, do ensino obrigatório da “afro-etnomatemática” no curso de
licenciatura em Matemática. A medida, que disparou opiniões controvertidas na
opinião pública, apresenta pontos extremamente positivos e notáveis– mas, em
contrapartida, outros igualmente deletérios.
De autoria de Jorge Costa e do Coletivo Negro
Vozes, a medida é resultado da plataforma Matemáfrica, cujo objetivo é criar um
espaço de publicação de projetos e pesquisas associadas ao ensino e aprendizagem
da afro-matemática. A escolha pela implementação da afro-matemática, por sua
vez, destina-se a eliminar a sub-representação de negras e negros tanto entre
discentes, quanto entre os docentes escolares e universitários.
Nas palavras de Jorge,
“Referências
como o filme ‘Estrela Além do Tempo’, demonstram o quanto negras e negros são
produtoras de conhecimento científico e que devem ser introduzidos em nossas
escolas, com a finalidade de se quebrar estereótipos e demonstrar o talento e a
genialidade de nosso povo também nas áreas consideradas ciências duras como
matemática, física e química”.
Em síntese, a instituição
das matérias de Estudos Étnico-raciais e Afro-Matemáticas como Transformadora
Social resulta da tentativa de descolonizar o curriculum de ensino atualmente
vigente no Brasil e no Ocidente: numa palavra, resistir à imposição de matérias
e saberes europeus que excluíram ou deixaram forçosamente à margem
contribuições e autores africanos. A sub-representação étnica e, doravante, o
racismo ainda em voga encontram sua subsistência e sua retroalimentação no
ensino de um conjunto de saberes colonizador – porque oriundo da imposição
forçada de colonialistas europeus - e discriminatório.
Ora, com base nos ensinamentos de um dos mais
notórios filósofos da ciência do século XX, karl Popper, o processo de fazer
ciência, e portanto, de constituição do conhecimento, tem na tradição
racionalista um se seus aspectos mais importantes. O livre debate e aquilo que
herdamos dos filósofos gregos e helênicos, posteriormente renascidos pela pena
de Galileu, como a busca da verdade através de uma abordagem racional rica e de
múltiplas visões, são fatores fundamentais para a valorização da ciência e para
a capacidade humana de se livrar de velhas crenças e preconceitos.
O debruçar-se sobre teorias e autores até
então excluídos em virtude de um processo civilizador é louvável e necessário.
Popper nos mostrou sabiamente que a ciência se faz com a virtude da humildade.
A ciência e o próprio saber deparam-se com a possibilidade de falseabilidade de
suas conclusões a partir do nascimento de novas teorias, e nos conduzem sempre
à busca de melhoramentos e da solidificação de nosso conhecimento. Nos termos
do próprio Popper:
“Dentro
dessa tradição racionalista, a ciência é estimada, reconhecidamente, pelas suas
realizações práticas, mais ainda, porém, pelo conteúdo informativo e a
capacidade de livrar nossas mentes de velhas crenças e preconceitos, velhas
certezas, oferecendo-nos em seu lugar novas conjecturas e hipóteses ousadas. A
ciência é valorizada pela influência liberalizadora que exerce – uma das forças
mais poderosas que contribuiu para a liberdade humana.”
Este aspecto de natureza deveras positiva do
Coletivo, choca-se, contudo, com outro inteiramente distinto, que lhe é
inclusive oposto. Jorge Costa parece não se furtar à lógica da racialização que
tanto marcou as expedições brutais de exclusão e divisão segundo o critério da
raça ou da cor. Há, para ele e o Coletivo, racismo na matemática “tradicional”,
pois “a disciplina de matemática é uma
das responsáveis pela exclusão de negros e negras das escolas, e
consequentemente dos cursos superiores nas áreas tecnológicas”.
A afirmação é alarmante e levanta, de
imediato, muitas questões. São a ciência e o conhecimento racistas? Sabemos que
a teoria científica pode ser dita como modelo matemático que descreve e codifica
as observações que fazemos; que descreve uma vasta série de fenômenos com base
em postulados simples e é capaz de fazer previsões igualmente claras e sujeitas
ao teste empírico. Neste sentido, ainda que nosso curriculum contemporâneo
possa ter sido implementado pelas forças excludentes do colonialismo europeu,
de forma alguma pode-se desconsiderar as contribuições imensuráveis de autores
como Pitágoras, Newton ou Leibniz para o campo da ciência. Tampouco é isento de
exagero associar a engenhosidade de suas obras com a finalidade de exaltar a
raça branca ou excluir povo considerados inferiores. Suas descobertas estão
muito mais alinhadas com o senso do pensar filosófico e do ímpeto de solucionar
mistérios físicos ou matemáticos do que propriamente á exclusão de um grupo
sub-representado.
Construindo uma analogia com a medicina dos
dias atuais, é possível remontar as contribuições mais relevantes neste campo,
em sua maioria, ao trabalho acadêmico de cientistas ocidentais. Não por isso,
porém, podemos afirmar que um médico oncologista que se anima a salvar seu
paciente age de forma discriminadamente racista. Muito menos é crível salientar
que um professor de medicina no Brasil ou alhures cometa um ato racista ao
apresentar as inovações de Lavoisier ou da descoberta da penicilina.
Ademais, salta à vista a conclusão, em si
mesmo errônea e muito perigosa, de que a sub-representação de um grupo étnico
seja resultado explícito da exclusão institucional promovida por um conjunto de
normas e instituições igualmente racistas. Há tantos casos de sub-representação
documentados ao longo da história que se faz impossível acreditar que um único
fator sobrepujante seja capaz de explicar uma desigualdade que já ocorreu ou
que ainda persiste. No caso brasileiro, poderíamos afirmar que a matemática “tradicional”
é um fator igualmente decisivo para a exclusão de muitos outros brancos,
descendentes de europeus ou imigrantes japoneses, que possam não ter tido
acesso a uma educação básica de qualidade. No sul do país, por exemplo, onde
parte considerável da população é de pele branca, as parcelas da população de
baixa renda e com poucas oportunidades de mobilidade social incluem um grande
contingente de descendentes de europeus. Tanto no caso da exclusão dos negros
como no dos brancos do sul (e em muitos ouros estados da União, onde há também
muitos brancos e mestiços pobres), é possível indagar: foram as condições de
natureza sócio-econômica, aliadas a fatores como fragilidade dos serviços
públicos, ou a cor da pele os fatores primordiais para a eventual definição do
ingresso numa universidade pública ou a um ofício bem remunerado?
Há ainda neste imbróglio outro aspecto
relevante. É evidente que a matemática e as ciências “tradicionais” ocidentais são
amplamente ensinadas no mundo acadêmico. Este fato, no entanto, pode estar
relacionado à faculdade que elas possuem de responder às necessidades existentes
no mundo contemporâneo. A tecnologia da computação, a engenharia, as ciências
biológicas, a construção civil e o próprio desenvolvimento econômico e social
são extremamente dependentes da boa formação de mão-de-obra, que seja capaz de
lidar com os desafios que nascem com a globalização e a competividade – e até o
momento, a matemática tradicional tem correspondido com sucesso às demandas do
progresso material e das melhorias nas condições básicas de vida.
A inclusão de vozes e contribuições até então
relegadas à marginalização é fundamental para o enriquecimento do processo de
se fazer ciência e para o próprio desenvolvimento de novas teorias. Já a
prática de rotular um determinado campo do saber, não. Por outros meios,
classificar a matemática tradicional como racista implica desestimular ou mesmo
condenar seu ensino e aprendizado, tal como fizemos, no passado, com as contribuições
de grupos subjugados sob a justificativa de que sua cultura e saber eram
inferiores. A difusão de uma ciência não pode se ajoelhar, como argumentaria
Popper, a um projeto ideológico de poder. É tudo isto extremamente contrário à
tradição filosófica que nos legou o que há de mais precioso para a construção
do conhecimento em qualquer sociedade: o debate, a livre expressão e o
exercício da razão.
Bibliografia
Todos os agradecimentos à empresa de empréstimos Elegant por me ajudar a garantir US $ 1.000.000,00 para estabelecer meu negócio de supermercado de gêneros alimentícios em diferentes lugares. Eu tenho procurado por uma ajuda financeira nos últimos quatro anos. Mas agora, estou completamente estressado, livre de toda a ajuda do agente de empréstimos, Sr. Russ Harry. Portanto, aconselharei qualquer pessoa que buscar fundos para melhorar seus negócios a entrar em contato com essa grande empresa em busca de ajuda, e ela é real e testada. Você pode contatá-los através do e-mail --Elegantloanfirm@Hotmail.com- ou Whats-app +393511617486.
ResponderExcluir