O livro é dividido em 23 capítulos, todos
destinados a esclarecer equívocos comumente repetidos por apadrinhados
ideológicos e famigerados “esquerdistas”; equívocos estes que, além de não
possuírem, muitas vezes, o mínimo de coerência ou fato empírico que assegure
sua sustentação, apenas servem para emudecer de espanto, com tamanha
ignorância, o individuo bem entendido que eventualmente os possa ouvir.
Em si mesmo, “Não, sr. Comuna”, é, portanto,
um livro radical. Se inicia exatamente com o radicalismo de deixar assente a
verdadeira e única raiz de toda e qualquer riqueza: a ação humana, a iniciativa
pessoal, privada, competitiva; enfim, o capitalismo, este portentoso mal que,
quanto mais retira povos e pessoas da extrema pobreza, mais é duramente
criticado. Perpassa o mito do progresso, onde afirma categoricamente que nossa
riqueza material deve-se exclusivamente ao uso do capital. Descontrói a fábula do
congelamento de preços, o qual, categoricamente, não é capaz de reduzir taxas
inflacionárias ao longo prazo e ainda nos premia com escassez e desemprego. Salienta
a impossibilidade teórica do socialismo, deixando claro que sob este arranjo
econômico, político e social a racionalidade na tomada de decisão não existe.
Esclarece todas as inverdades a respeito das condições de trabalho durante a
Revolução Industrial inglesa e que cercam as equivocadas denúncias sobre
trabalho escravo na China que eventualmente decorreriam da globalização.
Alerta, dentre outras coisas, para o risco do confisco de propriedade e
tributação de lucros e grandes fortunas, desvelando suas principais
consequências e deixando claro a vacuidade perniciosa subsistente nesta
proposta.
Ao leitor já iniciado no mérito liberal e
conservador, a leitura é cômoda e recomendada para reforçar as lições já
aprendidas. Ao leitor ainda não introduzido nestes estudos, mas que pouca
afeição nutre pelas doutrinas do socialismo, comunismo e afins, a leitura é, ao
mesmo tempo, quase obrigatória e porta de entrada para um mundo inesgotável de clássicos,
razão e brilhantismo. Já ao leitor não introduzido que teme desassociar-se do
marxismo-leninismo popular, a leitura reveste-se de importância moral. Como já dizia John Locke há centenas de anos,
ninguém possui o direito de escravizar-se ou atentar contra a própria
liberdade. A você, esquerdista, o livro representa a alforria e a libertação de
um peso autoritário, um abraço mísero disfarçado de grandeza, de promessas
falsas e demagógicas.
Sinotti não poupou palavras onde era preciso,
não se delongou onde não era necessário, nem omitiu dados e opiniões onde não o
era consentido fazer. É sucinto e direto ao ponto ao desmascarar a falácia da “economia
soma-zero”; é consciente de sua missão ao explicar todos os pormenores da Lei
Rouanet que justificam, ao menos, sua reformulação e é cuidadoso ou trazer a
lume os números da crise de 29 e as políticas que a antecederam e procederam.
No início, disse que “Não, Sr. Comuna”
tratava-se de um marco na tradição editorial brasileira. Digo-o de novo.
Reitero. Não há livro algum na história brasileira que trate tão eficientemente
do ressentimento quando travestido em discurso político e econômico. É um
convite aos que ainda nutrem certa ojeriza ao capitalismo e que insistem em
remeter aos ricos e à propriedade as causas das mazelas do mundo. Um guia excelente
e muito útil para os que ainda sofrem deste mal.
Se o leitor ainda precisar de referências
físicas, o livro possui pouco mais do que 200 páginas, preenchidas com textos
de fácil leitura e apreensão. O valor do investimento – sim, isto mesmo,
investimento – apresenta variação de acordo com a livraria que o oferta, mas
não chega a ultrapassar o patamar de R$ 35,00. Vale à pena. Vale à pena, é necessário principalmente para você, que, enraivecido e prestes
a rasgar esse papel, deve estar pensando: “Ultraje! Este livro deveria ser
censurado! Apenas a esquerda é compatível com a liberdade! Morte ao capitalismo!”.
Irei ver nesse final de semana na livraria mais próxima e irei ler no metrô lotadão e na faculdade de humanas para ver a reação...rs
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