O rebaixamento da nota brasileira de
crédito soberano pela instituição Standard & Poor’s, anunciada no último
dia 09/09, da categoria BBB- para BB+ com fortes indicadores negativos apresenta-se
em nosso atual cenário de crise econômica e política como um resultado já
aguardado e previamente estipulado por alguns analistas.
Com efeito, conforme também em exposição nossa
divulgada em ensaios precedentes tais como “Impeachment? Reação Conservadora”, “Necessidadeda Reforma Público-Administrativa” e “O que as manifestações a favor de Dilmatêm a dizer”, é deveras razoável situar as causas desta “falência do Estado
brasileiro” no curso dos acontecimentos retroativos ao início do atual modelo
de distribuição de renda e de fomento de amplos programas sociais.
De forma ainda mais
precisa, porém, este rebaixamento encontra seu princípio de razão suficiente no esfacelamento das condições de
governo e liderança política que acometeram o poder executivo nos últimos
meses. A dificuldade extrema em estabelecer uma agenda orçamentária que pudesse
apontar os rumos da recuperação econômica e a incapacidade de levar à cabo o
ajuste fiscal necessário ao equilíbrio das contas públicas constituíram fatores
determinantes para a retirada de nosso grau de investimento. Na esfera das
negociações políticas e do estreitamento de alianças, o péssimo desempenho da
chefe de governo em exercício, Dilma Roussef, em desenvolver diálogos
conciliatórios com a base aliada e a perda ou desgaste profundo da legitimidade
de sua liderança política incorreram em braço amigo para o isolamento do poder
executivo em face dos outros Poderes e de outros partidos. Parece, deste modo, que
nos toma de assalto a sensação de que nossa atual República encontra-se ingovernável
e que nenhuma outra medida política originada e promulgada pelo Executivo terá
respaldo e força suficientes para alterar o curso lastimoso em que as
instituições que compõem nossa política econômica se encontram.
A hesitação em
promover a contenção de gastos e um corte mais extenso das despesas que tanto
oneram os pagadores de impostos e impedem o crescimento econômico, fato este
que se tornou evidente no projeto orçamentário aventado para 2016, como conseqüência
necessária trouxe consigo a nefasta defesa da necessidade de recrudescimento da
carga tributária como forma de equilibrar o ajuste orçamentário e acalentar,
esperançosamente, o crescimento ainda que mínimo do PIB brasileiro. E ainda que
tal proposta pudesse satisfazer determinado público alinhado a doutrinas
favoráveis à concentração de poder na maquinaria do Estado, fica assente a
reprovação geral diante de mais uma medida descabida intencionada à retomada da
estabilidade geral. A recente afirmação do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em
perfeita dissonância das proposições que defendemos em “Ineficiência e Restrição”,
apenas realça a gigantesca ineficiência dos serviços e da organização do setor
público. Corrobora, além disso, o contrário do que advém da tributação, uma vez
que impostos raramente se convertem em investimentos ou tem seus impactos
concentrados unicamente no grupo populacional alvo da nova tributação. Mais
impostos encarecem bens e serviços, reduzem consumo, ganhos e crescimento e
acarretam, por fim, em mais desemprego, déficits e pobreza.
Concomitantemente, assegurar
através de comparações ilegítimas ou demasiado ilusórias, como se faz possível ler
em alguns blogues e outros canais de comunicação, o caráter de sensatez que
possa haver em promover novas tributações diretas não somente representa um
profundo desprezo pela quantidade de arrecadação obtida via impostos indiretos,
como também nos concede a liberdade de supor estar-lhe imbuída uma finalidade
de legitimar mais uma medida autoritária cogitada pelo atual governo. E, embora
a revisão, por exemplo, dos programas de aposentadoria e dos custos
necessariamente a eles associados se faça necessária num cenário de reforma
público-administrativa, todo um conjunto de ações de sentido semelhante deve
lhe acompanhar caso se anseie um resultado efetivo na busca por mais
estabilidade.
E, se já não fosse péssimo o atual estado de
coisas e sua constatação, outro grave entrave – este sem dúvida derradeiro – à continuação
do Partido dos Trabalhadores começa a se agigantar no horizonte político. As
possibilidades de abertura de um processo de impeachment contra a atual
presidente Dilma Roussef cresceram sensivelmente em razão dos últimos
acontecimentos. Petições veiculadas em redes sociais com o intuito de angariar assinaturas
em prol da abertura de um processo de impeachment, bem como o anseio reforçado
da oposição em promover semelhante medida colocam em destaque a sofreguidão
penosa com a qual o governo petista tenta manter-se erguido. Aqui, as antigas palavras proferidas pelo
ex-presidente FHC a respeito da perda de legitimidade do governo Dilma parecem
ecoar com vigor e demonstram a exatidão da análise proferida. Como dissemos em “MiopiaIdeológica”, mais do que um deboche ou provocação oportunista, a declaração de
FHC constituía antes um aviso acerca do que fatalmente poderia suceder caso
soluções viáveis não fossem apresentadas e uma liderança política não arrogasse
a si a responsabilidade por conduzir o corpo civil. É significativo que dias
atrás Dilma Roussef tenha reconhecido os erros de sua gestão e de outras
precedentes, principalmente no que diz respeito ao excesso de gastos e na
recusa em compreender que uma crise se configurava no seio mesmo deste
planejamento, muito embora os desentendimentos entre ministros do executivo e a
irresolução quanto às medidas necessárias para um ajuste fiscal eficiente
tenham anulado os efeitos que tal reconhecimento possa ter produzido aos
cidadãos.
Disto tudo,
salientamos o fato de que o Partido dos Trabalhadores não demonstrou ser capaz
de lidar com sucesso com a crise atual. As instabilidades de semanas atrás apenas
fizeram-se agravar, e as próprias instituições que dão corpo e forma à nossa
democracia encontram-se mais ameaçadas. É gigantesca a dimensão cada vez maior com
que liberdades econômicas e, por conseguinte, políticas dos cidadãos são
restringidas em nome de um projeto de recuperação que não apresenta as mínimas
condições de êxito estável e sólido no futuro. As percepções de
ingovernabilidade e ilegitimidade do atual governo estão ainda maiores e tornam,
evidentemente, ainda mais incertos os acontecimentos que estão por vir. Urge,
desesperadamente, que reformas “radicais” sejam promovidas e que a prudência
não se distancie dos espaços de decisão do corpo político. O Impeachment
consiste ainda a nós no último refúgio da República, mas é agonizante como a
proximidade deste contexto com o recurso à deposição tem se tornado mais
estreita.
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