"Quando vejo o princípio de liberdade em ação, vejo agir um princípio vigoroso, e isto, de início, é tudo que sei. É o mesmo caso de um líquido; os gases que ele contém se liberam bruscamente: para se fazer um julgamento, é necessário que o primeiro movimento se acalme, que o liquido se torne mais claro, e que nossa observação possa ir um pouco além da superfície".
Edmund Burke.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Todo apoio a PEC 241/55

 No último dia 29/11/2016 foi aprovado no 1º turno de votações no Senado[1] o Projeto de Emenda Constitucional numero 241/55, cuja proposta é a reformulação gradual da política fiscal em âmbito nacional a partir do congelamento de gastos durante o período de 20 anos.

 Ao contrário do que muito se divulga por aí, as consequências da PEC tendem a ser positivas em longo prazo. Primeiramente, é necessário compreender que sua prática não irá reverter os ganhos sociais obtidos na era Lula-Dilma – Estes já se perderam todos. Sua façanha será a de permitir que sejam ressuscitados, para bem de todos e, especialmente, dos mais vulneráveis.  

 Todos os problemas econômicos que atualmente o Brasil enfrenta, que acabam por agravar as disparidades sociais já existentes, têm sua causa justamente no desequilíbrio fiscal e na expansão desmedida dos gastos públicos e da oferta monetária, principalmente a partir do ano de 2009[2].

 O mecanismo da crise funciona de modo claro: a oferta de crédito e o tamanho da máquina pública cresceram de forma desproporcional em relação ao aumento do setor privado, do qual se origina a arrecadação fiscal. Junte-se a isso a sempre má ideia de manipulação e controle de preços e temos um desastre anunciado. Desde 1994, temos assistido a um aumento constante da carga tributária, hoje a 14º maior do mundo, intolerável para uma sociedade pouco produtiva[3]. Concomitantemente, atingimos uma dívida pública de 70% em relação ao PIB de 2015, com déficit orçamentário anual na casa dos 10%[4].

 Basicamente, isto quer dizer que hoje arrecadamos muito menos do que nos propormos a gastar. O Tesouro, sequioso de financiar o desenvolvimento nacional, exaurida sua receita não tem mecanismo algum a recorrer senão a empréstimos ao setor privado. Este, por sua vez, tem grande parte de sua oferta de crédito, proporcional à taxa de poupança e investimento de seus clientes e acionistas, consumida pelo Estado. O resultado imediato, por um lado, implica numa subida da taxa de juros para pequenos e médios empresários e, por outro, implica na escassez de investimentos produtivos no setor privado, único, por excelência, capaz de criar riqueza.

 A política fiscal expansionista, pautada sobre déficits orçamentários com vistas ao aumento da demanda agregada, impulsionada já no segundo mandato da era Lula, além de consumir quase todos os investimentos produtivos, fez a economia entrar em recessão, fez perder em mais de 50% o poder real de compra de cada cidadão; desestabilizou todo ciclo produtivo, fornecendo falsos sinais a empreendedores e investidores.

 A bola de neve já estava consolidada. Os ganhos sociais conquistados caíram quase todos por água abaixo. A prosperidade despareceu tal como uma pequena brisa num dia quente e seco de verão. A dívida, a partir da irresponsabilidade de nossos “sábios governantes”, só fez aumentar, juntamente com seus juros. Mais do que nunca tornou-se explícita a ineficiência dos serviços públicos como um todo.

 Ironicamente, porém, é preciso entender que foram justamente os superávits primários – o ato de poupar e gastar menos do que se arrecada, sem contar os juros com a dívida – que proporcionaram a melhoria da qualidade de vida observada na última década. Sem necessidade de empréstimos para fechar suas contas, menos intervenção na economia fez-se necessária até 2009; menos impressão de dinheiro ou de títulos da dívida, mais estabilidade econômica e confiança por parte de investidores. Os controles dos gastos se demonstraram essenciais para proporcionar ganhos efetivos no poder de compra e a ascensão social de muitos[5].

 Em segundo lugar, é necessário ter em vista que os encarniçados e egoístas banqueiros enriquecem com esta situação justamente devido à irresponsabilidade de nosso governo, incapaz de manter suas promessas fiscais e quitar aquilo que deve. Também neste sentido, a PEC 241 em longo prazo se mostra vantajosa. Não podendo mais se endividar a torto e a direito, suas dívidas, juntamente com seus juros, hão de cair. Paulatinamente, mas hão de cair.

 Também não há solução milagrosa para este buraco fiscal em que nos metemos. Não é dever do Estado cavar cada vez mais fundo para extrair ainda mais recursos para sua máquina, hoje gigantesca e inominável. É seu dever, primeiramente, respeitar o pagador de impostos, o cidadão que se esforça, empreende, cria riquezas, inova, fornece recursos. A estipulação a um teto de gastos também irá ajudar e muito a por um basta neste “manicômio tributário”, responsável por concentrar renda nas mãos de poucos e fazer aumentar ainda mais, indiretamente, as desigualdades de renda. Caso tivéssemos tido esta mesma iniciativa em tempos pretéritos, talvez nossa carga tributária estivesse hoje em nível muito mais satisfatório, harmonioso, e quem sabe não estivéssemos operando em equilíbrio razoável de receitas.

 Em detrimento da opinião majoritária, tampouco é sábio ou eficiente tributar grandes fortunas e lucros. Como qualquer outra taxação, não se faz possível isolar seus efeitos negativos: estes se expandem para toda a sociedade, na forma de aumento de preços, redução de oferta de empregos, perda de investimentos e fuga de capitais. Em longo prazo, esta nova tributação tende a agravar ainda mais toda a situação.

 O cenário atual é, portanto, calamitoso: temos um grande e caro funcionalismo público, que supera as receitas provenientes dos pagadores de impostos; serviços ineficientes, que não funcionam como deveriam a despeito da grande quantidade de investimentos que recebem; vemos um forte desequilíbrio fiscal que põe em xeque a estabilidade do real e pode conduzi-lo à morte prematura, jogando por terra tudo o que conseguimos conquistar em matéria de avanços sociais e políticos nos últimos 20 anos.

 Tudo isto é resultado de um mito, como diria Paulo Rabello de Castro. O mito do “Governo Grátis”[6], um tipo de arranjo político que promete, demagogicamente, distribuir vantagens e ganhos a todos, sem fazer recair os custos a ninguém. Puro populismo latino-americano, ilusionista, ideológico e contra a realidade. Trata-se de um estilo de governança pautado sobre a acomodação de grupos de interesse, desejosos em manter seus privilégios, como o protecionismo a grandes indústrias, a fraca dinamicidade, o cabresto. Governo algum pode criar riqueza, nem subsistir sem a prosperidade de seus cidadãos. A PEC 241/55 é tímida, não propõe cortes profundos ou reformas necessárias, hoje gritantemente mais do que bem-vindas. O jeito é torcer para que, no futuro, provados seus benefícios à medida que o setor produtivo recupere suas forças, a ideia de um regime político muito mais livre possa ser abraçado por todos.    




[1] http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/11/senado-aprova-em-primeiro-turno-texto-base-da-pec-do-teto-de-gastos.html
[2] http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/03/conheca-cinco-causas-do-folego-curto-da-economia-brasileira.html
[3] https://legiscenter.jusbrasil.com.br/noticias/100187213/aumento-da-carga-tributaria-um-freio-para-o-crescimento
[4] http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/03/divida-publica-avanca-25-em-fevereiro-para-r-281-trilhoes.html
[5] http://mercadopopular.org/2014/10/se-o-tripe-e-neoliberal-lula-e-o-campeao-de-neoliberalismo-brasil/
[6] http://www.saraiva.com.br/o-mito-do-governo-gratis-8184803.html

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