Há três anos estava eu na PUC-SP,
assistindo a uma partida de futsal em companhia de um grande amigo sírio ao
qual, por curiosidade, questionei a respeito do que achava sobre o feminismo.
Sua resposta foi a mais intrigante possível: a igualdade das mulheres perante
os homens em todo o mundo é algo que não deveria encontrar opositores entre os
entes racionais. Mas remendou: mas alguma coisa neste “feminismo” tem algo de
irracional...
Passado todo este tempo, nunca deixei de me
questionar a respeito desse movimento, suas ideias, quando teria nascido e suas
formas de ação. Notei, evidentemente,
que existiam muitos “movimentos” dentro desta cultura de luta feminista contra
a opressão, velada ou implícita, dos homens e dos valores nomeadamente
machistas que se encontravam difundidas na sociedade. Mas, fato curioso, aquela
resposta final de meu amigo anos antes ainda verberava na minha memória, como
se de fato alguma verdade estivesse contida ali. Sabia que muito estava por
vir.
Eis que muito recentemente uma reação
inesperada tomou conta das pessoas nas redes sociais e nas mídias em todo o
Brasil. O estupro coletivo de uma menina de 17 anos, perpetrado por 33 homens,
provocou nos mais diversos grupos uma série de questionamentos, dúvidas,
reprovação (mais ou menos) generalizada e uma necessidade de encontrar uma justificativa
racional para algo tão abjeto como uma violência nestas dimensões. Alguns
culpabilizaram a vítima e as escolhas que eventualmente tivesse feito; outros,
com muito mais sensibilidade e acerto, condenavam a ação injustificável dos 33.
Mas algo diferente aconteceu desta vez. Em pouquíssimo tempo começou a se
apregoar uma ladainha enfadonha na qual se afirmava, ou assim parecia, que a
culpa não só residia na sociedade como um todo, na famigerada “cultura do
estupro” – nas entrelinhas, se originava pelo homem e como tal, cabia a todos
eles (os homens) o envergonhar-se e o responsabilizar-se por todo este deletério
estado de coisas.
Pois bem. Peço licença aos leitores homens,
aos leitores em conjunto e principalmente às leitoras que me leem. A todos em
conjunto, porque não falarei de política ou de economia, temas que
frequentemente trato aqui, embora esta questão não deixe de pertencer ao
panteão dos assuntos humanos. Às leitoras e leitores homens porque, como não
sei – e, sendo franco, tampouco importaria se soubesse – qual a visão de cada
um a respeito, não do estupro em si, mas do feminismo, confesso que
provavelmente não agradarei a todas e todos. Mas, convenhamos, num tema tão
controverso como este, o conflito é muito mais esperado do que o acordo.
A conveniência para um crime tão hediondo e
abominável é ato absurdo e não é a isso que me refiro. A “igualdade sexual” de
direitos e acesso a bens e serviços, a profissões e carreiras também tem razões
óbvias para ser defendida. Não é a isso novamente que me refiro. Antes, chamo a atenção para um caráter
indelével que encontramos no feminismo: a existência, nele, de uma estratégia
ou método ou “psicologismo” longe de ser novo, já bem antigo e já denunciado. “Todo
homem é um potencial estuprador”, dizem muitos, com um domínio quase
espetacular. Sem dúvida alguma, uma constituição reativa lhe dá vida, precedida
principalmente por uma negação singular, por uma classificação nos piores e mais
baixos termos. “O homem é mau, a cultura que o envolve e que de seu domínio
nasceu não pode ser outra coisa que não má, machista, opressora. Os papeis e funções
sociais constituídos historicamente nos oprimem” – dizem as feministas. “Representamos
o que há de melhor para as mulheres, o que é bom e só pode lhes fazer bem”,
afinal, eles, sua cultura, seus valores submetem, tornam violenta uma relação de existência que
deveria ser a mais fraterna possível.
A libertação das mulheres, por tudo isso e
segundo elas, só pode vir através de uma única via. O feminismo, segundo elas, há de ser o único
bálsamo libertador das mulheres e da civilização masculinizada do ocidente, a anátema
e solução para a estrutura de opressão na qual todos nascemos e somos criados.
Porém, o mal-estar, a angústia partilhada por todos frente a este estado de
coisas, é na verdade, o resultado da entronização, da naturalização da culpa que
envergonha e faz de todos os homens e mulheres dissidentes potenciais e
violentos vilões. “Sou culpado, minha consciência assim o diz, mesmo sem nada
ter feito”.
O feminismo se tornou uma moral, ressentida e tão
opressora quanto as muitas “morais” que combatia. Em seu seio gesta-se sua
contradição, está o oposto daquilo que advoga. Escravidão, sexismo, coerção, (ir)representatividade.
E isso tudo é irracional.
Se pudesse voltar no tempo e reviver a cena
descrita no inicio deste ensaio, apenas menearia a cabeça, com pesar partilhado,
ao arremate de meu colega. Na ocasião, não lembro o que disse, mas é provável
que o tenha questionado, sem entender sua resposta. Hoje, digo sem receio: o
feminismo não é libertação; é algo, em certos termos, ultraconservador e extremamente
moralista, por excelência coercitivo. Do que realmente necessitamos? Ora, precisamos
de mais Nietzsche, direitos individuais mais sólidos e - claro – menos feminismo.
obviamentem escrito por um homem
ResponderExcluirNão é uma posição partilhada somente por homens.
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