No mais recente vídeo
publicado pelo canal do Youtube ,“Mamaefalei (https://www.youtube.com/watch?v=OaR-A2Bflg4)”
, nos deparamos com uma situação, ao mesmo tempo cômica e trágica, que
evidencia a contradição que subsiste em boa parte dos membros e apoiadores do
Partido Socialismo e Liberdade.
Nele, observamos um confronto pouco amistoso
entre militantes, um líder do partido, outro do Movimento dos Trabalhadores sem
Teto, uma candidata a vereador pela cidade de São Paulo e membros do Movimento
Brasil Livre. Muitos são os fatos expressos pela gravação que poderiam ser
ressaltados e discutidos. No entanto, neste ensaio vou me restringir àquilo que
mais me chama a atenção.
Com efeito, é explícita nas
falas de Josué (representante do MTST) e outros militantes a defesa da revolução como forma de tornar o
socialismo uma realidade econômica, política e social. A queima de pneus,
fechamento arbitrário de marginais e vias expressas da capital paulista, “manifestações”
recheadas de depredação de patrimônio público e privada também são, desta
forma, consideradas atitudes heroicas dignas de quem luta por uma derrubada do
status quo e pela instauração de uma verdadeira democracia, ampla, com a
participação de todos e com um poder ilimitado.
Bem, é evidente, pelo menos para os indivíduos
de bom senso, que a ideia de uma revolução socialista é por si só terrível,
inspira às mais fúteis abstrações que sacrificam instituições e benefícios
historicamente constituídos e necessariamente conduz à tirania. Uma democracia,
um poder coletivo ilimitado tampouco soa bem: liberdades políticas e pessoais deixam
de existir em prol de uma coletividade tirânica que, longe de equalizar as
desigualdades, nivela e instaura uma opressão sem fim. Sem novidades, pois,
como já nos ensinou Toqueville, Mill, Hayek e tantos outros autores (inclusive
da esquerda revolucionária, como Lenin e Trotsky), socialismo e democracia não
apenas não se combinam, como a busca pela sociedade sem classes, mesmo no mais
livre dos regimes políticos, há necessariamente de conduzir a um poder político
arbitrário e despótico.
O que, para mim, não é evidente é a causa do contrassenso
existente quando socialistas movidos pelo ódio à burguesia e pelo sonho da
revolução dão-se ao trabalho de tentar implementar suas pautas de governo
através de vias notadamente burguesas. Sim, é isto mesmo: a simples ideia de uma
ordem política que pressupõe a existência de liberdades individuais, do poder
do individuo e da autonomia inalienável que dele jamais deve ser retirada,
evidencia justamente um sistema político burguês, idealizado para refrear
poderes ilegítimos e que se associa com facilidade ao capitalismo (podendo-se
dizer que decorre deste método econômico). Mais ainda, vem somar-se à grandeza
deste contrassenso a constatação de que é justamente a “ordem burguesa” a
condição de possibilidade do multipartidarismo, do debate de ideias e
convicções, da associação livre de indivíduos e da liberdade de cada cidadão de
escolher seu governante.
Ao defender a revolução socialista e, ao mesmo
tempo, lutar pela conquista de eleitores, encontramos no PSOL um contradição grave
para qualquer comunista: o “aburguesamento” do partido e de suas finalidades;
sua rendição à “lógica do capital”, que o faz tornar-se mais uma associação
burguesa e opressora.
Não quero com isso afirmar que a resolução
deste contrassenso se dá com o rompimento do estado de direito e com a
implementação absurda de uma revolta popular. Em verdade, esta seria a única
solução para a aporia, isto, claro, à revelia de todos os prejudicados com as
práticas tão civilizadas quanto a queima de pneus e a invasão de propriedades.
Mas, o verdadeiro motivo deste ensaio é deixar vocês, caros leitor e leitora,
cientes de que, da mesma forma como socialismo e liberdade são incompatíveis, o
PSOL não é nada menos do que uma contradição em termos e em sua práxis. É uma
vergonha face aos que tanto se esforçaram para aclamar o poder emancipatório da
revolução e uma afronta hipócrita às conquistas de nossa sociedade atual, as
quais tornaram possível a liberdade, principalmente de todos estes que se
queixam e exigem o fim das instituições da ordem estabelecida na mesma medida em
que gozam de seus benefícios.
Exatamente. Totalmente de acordo com seu texto! Eles têm liberdade no nome, mas são autoritários e querem ricos contra pobres e vice-versa
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