"Quando vejo o princípio de liberdade em ação, vejo agir um princípio vigoroso, e isto, de início, é tudo que sei. É o mesmo caso de um líquido; os gases que ele contém se liberam bruscamente: para se fazer um julgamento, é necessário que o primeiro movimento se acalme, que o liquido se torne mais claro, e que nossa observação possa ir um pouco além da superfície".
Edmund Burke.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

PSOL: o Curioso Caso de um Disparate Ambulante

No mais recente vídeo publicado pelo canal do Youtube ,“Mamaefalei (https://www.youtube.com/watch?v=OaR-A2Bflg4)” , nos deparamos com uma situação, ao mesmo tempo cômica e trágica, que evidencia a contradição que subsiste em boa parte dos membros e apoiadores do Partido Socialismo e Liberdade.

 Nele, observamos um confronto pouco amistoso entre militantes, um líder do partido, outro do Movimento dos Trabalhadores sem Teto, uma candidata a vereador pela cidade de São Paulo e membros do Movimento Brasil Livre. Muitos são os fatos expressos pela gravação que poderiam ser ressaltados e discutidos. No entanto, neste ensaio vou me restringir àquilo que mais me chama a atenção.

Com efeito, é explícita nas falas de Josué (representante do MTST) e outros militantes  a defesa da revolução como forma de tornar o socialismo uma realidade econômica, política e social. A queima de pneus, fechamento arbitrário de marginais e vias expressas da capital paulista, “manifestações” recheadas de depredação de patrimônio público e privada também são, desta forma, consideradas atitudes heroicas dignas de quem luta por uma derrubada do status quo e pela instauração de uma verdadeira democracia, ampla, com a participação de todos e com um poder ilimitado.

 Bem, é evidente, pelo menos para os indivíduos de bom senso, que a ideia de uma revolução socialista é por si só terrível, inspira às mais fúteis abstrações que sacrificam instituições e benefícios historicamente constituídos e necessariamente conduz à tirania. Uma democracia, um poder coletivo ilimitado tampouco soa bem: liberdades políticas e pessoais deixam de existir em prol de uma coletividade tirânica que, longe de equalizar as desigualdades, nivela e instaura uma opressão sem fim. Sem novidades, pois, como já nos ensinou Toqueville, Mill, Hayek e tantos outros autores (inclusive da esquerda revolucionária, como Lenin e Trotsky), socialismo e democracia não apenas não se combinam, como a busca pela sociedade sem classes, mesmo no mais livre dos regimes políticos, há necessariamente de conduzir a um poder político arbitrário e despótico.

 O que, para mim, não é evidente é a causa do contrassenso existente quando socialistas movidos pelo ódio à burguesia e pelo sonho da revolução dão-se ao trabalho de tentar implementar suas pautas de governo através de vias notadamente burguesas. Sim, é isto mesmo: a simples ideia de uma ordem política que pressupõe a existência de liberdades individuais, do poder do individuo e da autonomia inalienável que dele jamais deve ser retirada, evidencia justamente um sistema político burguês, idealizado para refrear poderes ilegítimos e que se associa com facilidade ao capitalismo (podendo-se dizer que decorre deste método econômico). Mais ainda, vem somar-se à grandeza deste contrassenso a constatação de que é justamente a “ordem burguesa” a condição de possibilidade do multipartidarismo, do debate de ideias e convicções, da associação livre de indivíduos e da liberdade de cada cidadão de escolher seu governante.

 Ao defender a revolução socialista e, ao mesmo tempo, lutar pela conquista de eleitores, encontramos no PSOL um contradição grave para qualquer comunista: o “aburguesamento” do partido e de suas finalidades; sua rendição à “lógica do capital”, que o faz tornar-se mais uma associação burguesa e opressora.


 Não quero com isso afirmar que a resolução deste contrassenso se dá com o rompimento do estado de direito e com a implementação absurda de uma revolta popular. Em verdade, esta seria a única solução para a aporia, isto, claro, à revelia de todos os prejudicados com as práticas tão civilizadas quanto a queima de pneus e a invasão de propriedades. Mas, o verdadeiro motivo deste ensaio é deixar vocês, caros leitor e leitora, cientes de que, da mesma forma como socialismo e liberdade são incompatíveis, o PSOL não é nada menos do que uma contradição em termos e em sua práxis. É uma vergonha face aos que tanto se esforçaram para aclamar o poder emancipatório da revolução e uma afronta hipócrita às conquistas de nossa sociedade atual, as quais tornaram possível a liberdade, principalmente de todos estes que se queixam e exigem o fim das instituições da ordem estabelecida na mesma medida em que gozam de seus benefícios. 

Um comentário:

  1. Exatamente. Totalmente de acordo com seu texto! Eles têm liberdade no nome, mas são autoritários e querem ricos contra pobres e vice-versa

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