Um exemplar
antiquíssimo de uma edição sobre história do beisebol americano assinado por “shoeless”
Joe Jackson, velhas armas de fogo utilizadas durante a guerra civil americana e
até um rolo de filme com imagens do ex-presidente Franklin Roosevelt – se você
já assistiu ao programa Trato Feito, exibido
pelo canal fechado The History Channel, com certeza já deve ter visto estas e outras
situações tão inusitadas e carregadas de um valor histórico ou cultural que
fazem qualquer admirador de história norte americana ficar com os olhos cheios
d’água.
Como também sou
admirador profundo de história, me apraz muito acompanhar séries semelhantes.
No entanto, hoje escrevo para salientar algo extremamente interessante que ocorre
em todos os episódios: a valoração dos itens e a formação dos preços através da
negociação entre os agentes econômicos.
O tema parece difícil de
ser assimilado, mas trata-se de algo muito simples. A formação de preços é
fundamental para a existência de uma sociedade que tem na troca voluntária
entre proprietários a base de seu funcionamento. A questão que surge, e que é objeto
de estudos econômicos e filosóficos até hoje, é exatamente como atribuir preços
aos objetos disponibilizados para venda e como saber se estes preços realmente
condizem com a realidade.
A primeira coisa
importante a se saber para responder a esta pergunta diz respeito a ter me
mente a diferença entre o valor de algo e o preço que este mesmo algo pode
apresentar. Isto significa entender que o valor de um livro, uma pulseira, um
objeto resultante de trabalho humano, decorrente de vários fatores, é algo
diferente do preço que ele apresenta quando em relação de troca com outros
produtos. Basicamente, podemos dizer que o valor que determinado item apresenta
é resultado da apreciação subjetiva, da capacidade que possui para satisfazer
alguma necessidade ou desejo, que os eventuais consumidores podem ver nele;
enquanto o preço é o estabelecimento de um valor de troca, numa unidade monetária
de uso comum por sua vez resultante da relação entre a oferta deste produto e a
demanda pelo mesmo.
No programa em
questão, um determinado item que alguma pessoa tem interesse em vender possui
um valor que se refere à apreciação subjetiva que outros consumidores poderão
nutrir nele – alguns poderão dar mais valor a uma arma que pode ter pertencido
a um valente soldado da Guerra da Secessão do que a um anel que possa ter sido
usado por Janis Joplin na sua última apresentação. Caberá ao humorado Rick,
proprietário da loja de penhoras, filtrar o artigo para descobrir, com base em
experiências passadas e prognósticos de acordo com as tendências presentes, se
haverá pessoas interessadas na sua aquisição.
Identificada uma
demanda por este item dá-se inicio ao passo seguinte, e sem dúvida o de maior
destaque em termos de análise econômica. De imediato, a pessoa disposta a
vender faz uma oferta. Rick ou seus colegas de trabalho a avaliam e, com base
em informações que dispõem ou até mesmo com base no auxilio de algum
especialista no ramo, fazem uma contra oferta, em geral mais baixa. A
negociação permanece até seu desfecho, que pode ser de duas espécies: um
positivo, no qual as partes em negociação entram em acordo e o item passa-se de
mãos e outro negativo, no qual as partes não conseguem estabelecer um acordo
mútuo para sua venda, permanecendo o item sob posse de quem tentou vende-lo.
A mensagem deste
processo humano e econômico é clara: o preço dos itens é determinado conforme a
oferta do mesmo e pela possível demanda. Mas, mais ainda, há algo de
significado ainda mais fundamental na negociação, a saber, o fato de que o
sistema de preços, quando estabelecido de forma livre entre os agentes que compram
e vendem, é o instrumento mais eficaz de alocação de recursos de que dispomos
num complexo arranjo econômico baseado na cooperação. É através dele, através
do preço médio, por exemplo, de um item histórico valioso em outras lojas de
penhor, que tornou possível a Rick e ao proprietário de algum item histórico
determinar o melhor local para a aplicação deste determinado recurso.
No caso do primeiro, o
sistema de preços livres lhe fornece uma informação, dispersa e fornecida por
inúmeros agentes, do quão escasso ou demandado é determinado bem. Por outro
lado, no caso do segundo, o sistema de preços livres lhe fornece a informação
de saber se há eventuais compradores dispostos a pagar mais ou oferecer
melhores condições de compra por aquilo que está disposto a vender, lhe
deixando claro se será vantajoso ou não fechar o negócio naquele momento.
E tudo isto é
importante porque apenas através de um sistema eficiente de preços, determinado
de forma autônoma e livre por compradores e vendedores, torna-se possível tomar
atitudes racionais que evitem desperdícios, minimizem prejuízos e maximizem
lucros e bem estar. Este é o segredo da eficiência do mercado em relação á
planificação econômica: o controle de preços a partir de uma ingerência externa
aos agentes econômicos torna ineficaz qualquer alocação de recursos, já que as informações
sobre escassez e demanda, sobre o melhor ramo para aplica-los, não estará
disponível para ser utilizado. Por consequência, desperdícios, falta de
qualidade, desabastecimentos e fome costumam decorrer de arranjos
sócio-econômicos baseados neste tipo de procedimento.
Da próxima vez,
portanto, que você assistir ao Trato
Feito, lembre-se que além de uma lição de história e cultura americanas,
você também estará assistindo a uma verdadeira aula sobre a formação de preços
e a importância de um mercado livre para a alocação eficiente de recursos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário