Vocês, leitor e leitora, já devem ter visto
postagens, textos variados a respeito da excessiva taxa de juros, da enormidade
do déficit público em relação ao valor que realmente se gasta com projetos
sociais e a manutenção de serviços públicos básicos, e que a culpa pela
necessidade do ajuste fiscal se dá exclusivamente pela ganância dos banqueiros
e dos mais variados agentes do setor financeiro. Em todo este discurso falso,
conforme se verá, não há nada de novo em relação aos erros que corriqueiramente
se cometem quando o assunto é déficit público e taxa de juros.
Para ir direto ao
ponto, não, a taxa de juros, ou o juro em si, não é um preço ou valor que possa
ser determinado artificialmente por um órgão restritivo e externo tal como o é
a estrutura governamental. Antes de mais nada, os juros consistem na diferença
entre um bem econômico presente e outro futuro: resultam primordialmente da
interação dos agentes econômicos nos preços de mercado, no qual o juro se
define como o preço de mercado dos bens que já se encontram disponíveis para consumo
em relação aos bens que ainda não se encontram finalizados.
Para esclarecer
melhor: boa parte de nós avalia subjetivamente, isto é, confere um valor maior
a um produto que possa lhe dar a satisfação imediata (no presente, no agora) de
algum desejo/necessidade em detrimento do mesmo bem quando disponível
futuramente, enquanto pouquíssimos entre nós estão dispostos a abrir mão de uma
satisfação imediata para, digamos, usufruir o mesmo bem ou serviço no futuro.
Isto tem uma razão evidente: dado que o tempo é um recurso escasso e não
sabemos quais serão as circunstâncias que amanhã estarão presentes, praticamente
todos os seres humanos tendem a procurar a máxima satisfação de seus desejos o
mais rápido possível. Este fato explica porquê, por exemplo, uma TV ou
computador já posto à venda é mais valorizado, e, portanto, mais caro, do que
todas as suas peças já unidas mas que, pela ausência de processos específicos
de produção, ainda não deram lugar a tais aparelhos.
À abstenção do consumo
imediato para um eventual consumo no futuro damos o nome de poupança, que na
economia dos nossos dias nada mais é do que o lastro do capital, a condição que
possibilita o surgimento de novos bens de capital e processos de melhoria na
produção de diversos bens. Visto que o juro corresponde à diferença de valor
entre o bem presente e o mesmo no futuro, numa sociedade em que ampla maioria
das pessoas possui uma preferência temporal alta (prioriza o consumo imediato)
em detrimento dos escassos poupadores, decorre que os bens futuros terão um
valor bem inferior aos bens presentes e, portanto, decorre que a taxa de juros
será elevada. No caminho inverso, no
qual a ampla maioria dos membros de uma determinada sociedade possui uma
preferência temporal baixa, a taxa de juros será necessariamente menor.
O leitor provavelmente
já terá percebido nesta altura que parece haver uma correlação inversamente proporcional
entre a taxa de juros e a poupança. Note que, à medida que o número de
poupadores cresce, e que, portanto, aumentam também os investimentos e acúmulos
de capital, as taxas de juro tendem a cair. Dizendo em miúdos: num contexto em que
os investimentos estão escassos e no qual os agentes encontram dificuldade para
acumular capital em decorrência de excessiva carga tributária, regulações e
burocracia, os bens futuros sofrem depreciação pela queda vertiginosa de sua
demanda. Note também que o crédito, como qualquer outro bem econômico e sujeito
ás relações de oferta e demanda dos processos de mercado, tem seu preço ainda
mais elevado devido ao fato de 70% de sua oferta ver-se atualmente consumida
quase que exclusivamente pela união e os estados federativos, ficando os
restantes 30% disponíveis para uma quantidade infindável de pessoas físicas e
jurídicas.
Aqui há esta grande
concentração de pessoas que defende o estabelecimento artificial de uma taxa
baixa de juros, de maneira a reduzir o déficit público e engordar o montante de
recursos destinados à máquina administrativa. Ora, façamos um exercício lógico:
se nos últimos anos a expansão creditícia a preços baixos – muito superior em
relação à quantidade de poupança que se formou neste período - incentivada
artificialmente pelo governo federal foi responsável em grande parte pela
desestruturação de nossa economia, quais benefícios uma ação como essa poderá
nos trazer?
A emissão desmedida de moeda, bem como a expansão irresponsável de crédito, não apenas sinalizam erroneamente a investidores e empresários as condições de mercado em determinados setores, como também comprometem a aplicação de recursos e de mão-de-obra nas mais diversas áreas. Daí só pode advir a grande massa de desempregados, principalmente dos setores de bens de produção, e o generalizado aumento de preços. Os verdadeiros vilões da crise são, portanto, o governo federal e suas medidas tirânicas utópicas de supressão da pobreza e combate à desigualdade que, amparados sobre um inchaço tenebroso do seu poder, submete todo o setor bancário a mais opressora obediência quanto à imposição de preços tabelados de subsídios, moeda e crédito. Novamente: não, cidadãos, os bancos não são responsáveis pela irresponsabilidade da União com suas próprias contas. Também não são eles responsáveis pela redução das suas possibilidades de escolha em pleno século XXI.